quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

My Sister's Keeper

Chamava-se D. Tinha 19 anos, e uma vida risonha pela frente. À vista, percebia-se que era um rapaz muito agradável: tinha mais de 1,85m, ombros largos que poderiam ser protectores, mãos grandes de rapaz forte e uma cara expressiva. Estudava na faculdade e, nos tempos livres, era modelo fotográfico. Filho único, o orgulho da sua mãe, que embargava a voz de sentimento quando falava do D. De uma mocidade que lhe sorria, tinha também um sarcoma ósseo em estadio IV, com metastização difusa, em quimioterapia paliativa. E o D. de umas linhas acima, apenas o percebi pelos traços, pelo sorriso sincero, pelo heroísmo na dor, pelo optimismo, pela simpatia, pela emoção da dona F. quando me descrevia o filho. O D. faleceu no IPO do Porto num dia triste do mês de Novembro de 2008.

Chorei, chorei feita menina ao ver este filme. E, apesar disso, aconselho-o a todos os que o quiserem ver, na certeza de que, por mais endurecido que a vida tenha tornado o coração de alguém, algo dentro de cada um irá ser transtornado, revolvido. Chorei no refúgio do meu quarto, e não pude evitar as lembranças daquele armário pequeno, ao pé dos elevadores, que tantas vezes acolhia as lágrimas de todos os que trabalhavam no piso 8 daquele hospital.

Antecipar.

É pôr a mesa, escolher os melhores copos, colocar os pratos criteriosamente centrados na sua base, dobrar os guardanapos, colocar os talheres como manda a etiqueta, e saber que dali a nada a mesa estará cheia de comida farta e composta por pessoas que se querem muito bem umas às outras.
É esperar uma mensagem que nem sabemos se chegará, é olhar para as horas em que aguarda um momento especial, imaginar mil e umas coisas próximas e longínquas da realidade.
É vestir a roupa, calçar os sapatos, tão cuidadosamente pensados durante a semana, é colocar a maquilhagem e o perfume, é vestir o casaco e sair ao encontro de alguém.

Não devemos sofrer por antecipação, mas devemos ser expectantes para as coisas boas. É bom sentirmo-nos como crianças que sabem que vão ter um presentes. Daqueles que encabeçam a lista de pedidos ao Pai Natal.

Não reparar.



Hoje, na estação de metro da Trindade, alguém fazia música. Não perdi tempo no momento, os compromissos falavam mais alto. Mas agora, no quentinho do meu quarto e das recordações, lembrei-me disto e percebi porque é que Barcelona é uma cidade tão bonita. Porque lá as pessoas sabem apreciar isto, e não passam apressadas como eu fiz hoje. E naqueles dias sabia tão bem...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Do que termina e do que começa


Numa atitude de imprudência, como eu tão bem as sei ter, faço o balanço deste ano que terminará quatro dias antes do seu final. Preferível seria esperar as surpresas que estes dias me trarão e, depois, na calma de trezentos e sessenta e cinco dias a estrear, fazer as contas à vida. Mas, se o meu positivismo para 2010 está gordo e anafado, por outro lado surge-me a quase inevitável vontade de fazer resoluções para o ano que se segue. Sei que podemos fazê-las em qualquer altura do ano, num momento de reflexão mas este impõe-se a si mesmo como uma oportunidade de olhar para o que ficou para trás e pensar o que queremos para a frente.

2009 começou tristonho, vazio, cheio de lágrimas, empurrado por um ano velhinho que foi mau comigo. Agora sei que essas tristezas foram vazias, sem sentido, de uma estupidez tal que em Fevereiro cortava o mau de 2008 pela raiz. Aliás, este processo foi tão renegerador que me permitiu aprender imenso sobre mim própria, aprender sobre a forma como me quero relacionar com aqueles que estão à minha volta, e pensar que afinal eu também mereço alguns momentos de pura felicidade. E em Março, eu mudei e o ano 2009 afigurou-se um bom ano. Não esplêndido, bom.


Em 2009 tive direito a muito trabalho, muitos aborrecimentos, muitas horas de sono perdidas, muitas surpresas desagradáveis, mas também a muitos mimos, muitas festas, muitos jantares e algumas surpresas agradáveis. Além disso, (re)descobri pessoas fantásticas, que hoje são uma parte inequívoca da minha vida e tentei, tantas vezes em vão, manter aquelas que já o eram. Em 2009 vivi um Inverno em que me senti crescer e um Verão que aproveitei o máximo que pude e que a vida me permitiu. Em 2009, percebi que gosto muito daquilo que faço enquanto profissão e fui confrontada com a realidade que em 2010 serei definitivamente adulta. E faltam quatro dias para este ano terminar, numa passagem de ano longe de casa, com alguns amigos no coração.

Mas, porque gosto de me organizar, numa desorganização que é minha, as minhas resoluções para o ano 2010, em jeito de comprometimento, são (e não necessariamente por ordem de prioridade):
1. Estudar mais um bocadinho para acabar o curso com uma média decente – dar uma alegria aos papás de quando em quando!
2. Arranjar emprego (de certo modo) rapidamente após terminar o curso.
3. Terminar de tirar a carta de condução – o Luís vai-me melgar até o fazer, portanto mais vale fazê-lo.
4. Inscrever-me num ginásio e começar a praticar exercício físico, pelo menos, duas vezes por semanas.
5. Encontrar tempo para estar com os amigos, todos eles, e dizer-lhes o quanto gosto deles.
6. Encontrar um adulto responsável com quem possa viver um dia-a-dia menos responsável por mais de três meses (e apaixonar-me por ele e ele por mim).
7. Parar de fazer compras inúteis e que não me servem para nada.
8. Fazer, pelo menos, uma grande viagem este ano na companhia dos amigos.
9. Aproveitar todos os meus últimos momentos – sem mais explicações!
10. Encontrar mais tempo e fabricar mais momentos para passar com os meus pais, dizendo-lhes mais vezes que gosto deles.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Do que une

Acredito que aquilo que une duas pessoas é a sua capacidade para rirem juntas, delas mesmas, uma da outra e do resto do mundo. A mim sabe-me bem um sentido de humor apurado, inteligente, acutilante. A capacidade de me fazerem rir quando estou num daqueles meus dias de amuo, capricho ou zanga é a cereja no topo do bolo. Rendida, é o que é.

A pulseira cor-de-rosa

É imbuída de um sentimento de enorme alegria que escrevo este post. De muita alegria, duas nódoas negras e um enorme arranhão...na cara. Alegria, porque estou inteira. Nódoas negras e arranhão, porque na véspera de Natal dei um trambolhão daqueles. Que eu sou meia-trapalhona, já não é novidade para ninguém. E que estou sempre a cair também não. Mas arranhar a cara... Pronto, é desta que vou à bruxa!

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Natal


Vozes da Rádio - Peúgas e Pijama


Dia 24 de Dezembro, véspera de Natal. As mulheres da minha vida embrenham-se em cozinhados, a casa impregnada de um cheirinho a doce, os homens conversam animados no sofá. Ainda são quatro da tarde.

Hoje em dia, muitos dizem que não gostam do Natal. Que o que resta do Natal é o consumismo, o dinheiro e as prendas, e a hipocrisia de visitar a família que ignoramos durante o resto do ano. E eu respondo que não, não é nada disso. O Natal é aquilo que cada um faz dele.

O meu é maravilhoso. Familiar, sem frivolidades, cheio de amor. Na casa dos avós, com a lareia acesa e um pequeno pinheiro que brilha ao canto. Com uma mesa cheia de comida, a ajudar a avó, a mãe e a tia a preparar as travessas e a provar as sobremesas, uma a uma. Com a guitarra do tio Quim e umas canções. Ou uns quantos jogos. Com muita conversa e risos à mistura. E depois chega a meia-noite, com o Pai Natal de serviço do ano. A alegria da única criança, e a felicidade pela troca de presentes por mais modestos que possam ser. O dizer a alguém gosto muito de ti.

É assim o Natal desde que me lembro, em família. E não poderia imaginar nada melhor. Feliz Natal.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Por um brilho de um olhar

No olhar espelhado daquele senhor, de um brilho distinto e, ao mesmo tempo, familiar, as amarguras, a angústia, a sensação de injustiça, o cansaço, as discussões e a noção de que há quem não vale mesma a pena, tornar-se-ão mais pequenos que grãos de areia no deserto em que às vezes conseguimos transformar a vida que levamos.

domingo, 22 de novembro de 2009

Uma saudade pequenina.


Por várias vezes, me deu umas saudades destes dias, daquelas apertadinhas, acompanhadas por um sorriso autista, só possível de ser partilhado com quem partilhou os mesmos dias.

Bem sei que o que passou, passou e o tempo não se vai compadecer de corações com saudades e recordações felizes. Aqueles instantes não se vão repetir, nem que voltemos os seis à mesma cidade, visitemos os mesmos locais, façamos tudo aquilo que fizemos. Nada será igual, bem sei.

Mas não será por isso que deixarei de sentir a falta do que senti naqueles momentos. Recordações de alegria, de loucuras, de juventude, de ser-se como se é, do mais puro à tona.

E é disso que sinto saudades.

sábado, 14 de novembro de 2009

I cant have it all...

Do you want a lover, or do you want a life?
One hand or the other, the butter or the bread knife?
Do you choose winter, spring, summer, or fall?

Se pudéssemos aguentar a exaustividade de contar, certamente que escolher é a coisa que mais fazemos durante toda a nossa vida. Aliás, acredito que a única coisa que não escolhemos é nascer. E a nossa vida é o resultado daquilo que escolhemos, uns escravos das escolhas, outros pensando que são livres para escolher. Tudo é moldado pelas nossas escolhas, escolhas de hoje geram as consequências de amanhã.

Mas como escolher entre duas coisas insubstituíveis? Como priorizar, como saber o que é melhor, como saber se vale o risco?

Bem sei, e bem me dizem, que a resposta é a coragem. Ela é algo que nos faz tomar as melhores escolhas. Basta tentar. A liberdade deixa-nos escolher o que fazemos, mas não nos deixa livres para escolher as consequências de nossas acções. Para isso resta-nos a coragem.

Tudo na vida são escolhas. E a mim falta-me coragem.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Às 0h07

três enfermeiras e uma auxiliar de acção médica dançam animadamente a música I gotta feeling dos Black Eyed Peas. Haja alegria, num sítio de tantas tristezas! E eu tenho um feeling que tomorrow's night’s gonna be a good night... :)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Como se diz quero-te?

Ela pegou no telemóvel e escreveu apenas Quero-te numa mensagem que ficou por enviar. Pensou adicionar-lhe alguma poesia mas já aprendeu que a vontade faz-se de palavras cruas e espontâneas. Naquele dia, não queria romance, nem conversas, nem mimos, nem amor. Queria-o a ele, na sua boca, ao som de murmúrios e prazer. Queria-o mas por não saber como lhe dizer, guardou o telefone e foi para a cama. Sozinha.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Calar.

As palavras arrastam-se, estendem-se languidamente pelo etéreo do meu pensamento. Às vezes, assomam quase à superfície, quase se materializam mas, na maioria dos meus dias, ecoam no mais profundo que encontro do meu ser. É inútil, bem sei. É um quase absurdo, porque a realidade que traduzem em código nada muda nem adia.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Do que enche a alma

Estava uma noite enluarada e quente. Daquelas vestidas de melancolia, como as que só existem em versos de poeta e no nosso Porto estudante. Entrei lentamente naquele espaço, tão cheio de tudo. E quando galguei a curva daquela esquina, vi um mar de gente de negro, envolvido por uma mancha de luz suave e fixa, a deixar que os meus olhos recortassem nitidamente todas as figuras envoltas num manto de negro já de tanta saudade.

Há meia noite ao luar
Vai pelas ruas a cantar o boémio e sonhador.

Era noite de serenata. E capas negras escutavam em silêncio. A solidão parecia ter invadido todas as ruas da cidade e, tenho a certeza, que a terra inteira tinha parado para ouvir a voz dos estudantes.

Eu quero que o meu caixão
Tenha uma forma bizarra,
A forma de um coração,
Ai!... A forma de uma guitarra.

O fado soou e as guitarras elevaram-se nos corações de quem as pode sentir. Do mar de negro, alguns rostos com nome, a minha gente. E a saudade, essa que fez das tripas coração para se conter num soluço.

Capa negra de saudade
No momento da partida.
Segredos desta cidade
Levo-os comigo p'ra vida.

E levo em mim guardado o choro que uma balada de saudade me oferece. E levo-o comigo, da forma que só eu o posso levar, ainda que comigo outros carreguem também o seu choro. E levo comigo uma capa velhinha, da cor da noite escura, onde carrego todas as minhas pessoas, todas as minhas alegrias, todas as minhas lágrimas, tudo o que vivi e alguma vez valeu a pena.

As nossas capas rotas, velhinhas
Todas de negro, enchem o ar.
São como andorinhas
Que se preparam para emigrar.

E rasgam-se capas, e dá-se o que me mais valor se carrega nesta vida. Partilha-se o que nos apara as lágrimas da despedida, de já saudade. Rasgam-se capas mas cosem-se corações e vidas com linhas ad eternum. Carregam-se desejos e pesares. Com a certeza de que nunca saberei dizer adeus.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Dé, na próxima semana...

Podia ter sido assim.

- Não obrigada, deixa estar.
- Deixa, eu não vou a lado nenhum. Sei que é um momento difícil, estás triste.
- Oh não se passa nada, eu estou bem. Sou óptima a resolver problemas.
- Pára! Pára de te fazeres forte. Estás a falar comigo, conheço-te. Sei que, por detrás dessa carapaça, estás triste e zangada. Deixa-me cuidar de ti.

...

Ela continuava a movimentar-se, agitada, entre lágrimas mas como se nada tivesse acontecido. Ele aproximou-se e ficou. Ela tentou esquivar-se da sua presença. Ele agarrou-lhe no braço. E ela ficou, apertando o seu corpo contra o dele. Ficaram assim durante tanto tempo que nem sabem quanto. Quando ela finalmente se acalmou, sentaram-se e conversaram a noite inteira. Ela abriu o seu coração, falou e chorou como nunca antes o havia feito. E, a partir dali, a cumplicidade foi sempre mais forte que as palavras.

...

Podia ter sido assim.

Esta semana que passou.


Chorei de alegria. Chorei de tristeza. Chorei de raiva. Chorei de felicidade. Chorei de cansaço. Chorei de rir e chorei de chorar. Foram demasiadas as vezes em que dei azo a uma expressão tão simples e natural, pouco para mim, na minha certeza de que as lágrimas continuam a ser das minhas mais sinceras formas de mostras as emoções.

domingo, 13 de setembro de 2009

Da varanda da minha casa

A varanda da minha casa é um sítio agradável de se estar, especialmente se tiver como companhia o sempre leal cigarro, meia dúzia de estrelas que decidiram hoje ontem visitar o céu e um bom livro. Faço uma pausa nas leituras e, ao longe, milhares de luzes dizem-me que existe mais vida para além do silêncio da minha rua, onde apenas o leve soprar do vento oscila lentamente as folhas mais altas de algumas árvores. Respiro fundo, sabe bem cada inspiração mais lenta.

É noite e nada mais se passará até ao amanhecer, quando voltará ao burburinho das rotinas, aos risos e gritos das crianças e perceberei que começou mais um dia. Igual a tantos outros.
Penso, inevitavelmente. E dentro da minha cabeça um turbilhão, uma disputa enorme. Penso, é sempre assim. E sinto borboletas na barriga quando me lembro de todos os gestos de carinho. E qualquer coisa estremece quando oiço aquela voz. E lembro-me então que desenho um sorriso no rosto quando sei dele. Penso. Deixo-me respirar fundo novamente. Um carro passa na rua, estranhamente. É altura de regressar ao conforto do meu quarto, apesar de me sentir ainda mais confortável ali, na companhia dos meus pensamentos.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Um dia que deviam ser dias.

Hoje, num dia que é dia, eu queria algo sensual, lençóis mornos, pele suada, carícias, carinhos e beijinhos. Hoje eu queria horas que passam ao ritmo de dias, olhares cúmplices, reinventar o já descoberto, mimar mimando-me. Hoje eu queria apagar um fogo, acalmar um braseiro, deixar o coração cair num abismo para depois ser salvo.

Hoje eu queria um dia que deviam ser dias.

2. Do outro lado de lá: Do mimo


1. Do outro lado de lá: Da chuva

Começou a cair, depois de um breve aviso, que resolvemos ignorar. Não trazia com ela angústia e muito menos medos, apenas a esperança de um tempo mais fresco. E que bem nos saberia.
Os pingos caíam rapidamente e com a força de tempestade, dando lugar a mais e novos. A chuva descia, descia. E as almas começaram a refrescar-se. A chuva criou novas histórias e deu alento às velhas. A chuva renovou expectativas e modificou situações. A chuva foi festa, deixou rasto de alegria. A chuva gerou um suspiro de satisfação e deleite. A chuva foi um mimo para a alma, um sensorial quase palpável. A chuva fez chover recordações.


domingo, 6 de setembro de 2009

Daquilo.

Gosto daquilo. Da cumplicidade. Do carinho. Do quente. Dos sorrisos. Da conversa. Do ambiente. Das gargalhadas. Da partilha. Do dar-me a conhecer. E do conhecer. Do perceber-me. E do perceber. De me inquirir a mim mesma. De me fazer crescer. Gosto. E pronto. Simples. Como eu não sou.

sábado, 5 de setembro de 2009

A canção.

Era apenas mais uma noite, como tantas outras de recordar que já tínhamos tido. Não me lembro o dia da semana, afinal o tempo passou depressa demais sem que eu o conseguisse contar. Apenas digo que a noite estava amena, agradável, quente até. O céu podia não ter estrelas, como tantas vezes não o tivera, mas eu nunca iria reparar nisso. A conversa surgiu como em tantas outras ocasiões, espontânea, fácil, interessante. Falaram-se de trivialidades e de coisas sérias. Cantaram-se canções, como tantas outras vezes. Mas, naquela vez, a voz dele fez -se ouvir, de uma forma distintas de tantas outras vezes. De olhos fechados, recostado, apreciei-lhe o rosto e as feições e encantei-me pela voz forte, rouca. Calmo, tranquilo, quase que sereno. Soube-me a prazer.

Uma semana depois.

E temo que tudo o que tenha a dizer não caiba em palavras. À espera das recordações fotográficas, não vá a memória das emoções trair-me.

[seguir-se-ão vários post's acerca de dias a não esquecer]

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Pessoas

Existem aquelas pessoas com quem partilhamos muitos momentos, de quem gostamos e nos afeiçoamos, a quem temos até de agradecer muitas coisas boas, mas ainda assim sentimos que lhes falta algo que as faça distinguir aos nossos no meio de uma multidão. A empatia, o fluir das conversas, a sensação da compreensão e do atendimento são apenas acendalhas mornas que não deixam o nosso coração sentir frio, sem que o aqueçam realmente.

Depois existem as outras. Aquelas que conhecemos e, no momento que se segue, nos aquecem a alma como um vulcão. Que, de imediato, trazem tudo. E é como se sempre estivessem estado lá.

Até que o rio nos separe.

«Não sou nenhum sábio. Não finjo que tenho as respostas para todos os segredos do universo, mas há algo que sei: uns vivem bem, outros morrem bem, mas poucos amam bem. Porquê? Não sei e não posso responder a isso. Todos vivemos, todos morremos - não há forma de escaparmos, mas é o que está no meio que importa. Amar bem... é outra coisa.»
Charles Martin

[nem pela metade e já me prendeu]

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

(quase) segredo


Giulia y Los Tellarini - Barcelona

(self-note: nunca ponhas uma música em formato .mp3 no blogue. Lembra-te que este post foi um exercício aterrador de paciência e persistência)

Tartamudez

Há uma semana, quis escrever alguma coisa sobre o que se tinha passado naquele dia. E escrevi. E reli. Reli novamente. E apaguei. Reescrevi então. Voltei a ler. E apaguei.

Não porque o discurso fosse escasso. Com facilidade escreveria com facilidade acerca da felicidade que sinto ao manter comigo todos aqueles que valorizo. Ou então da alegria que tenho por nunca ter tido uma perda realmente significativa. Mais, poderia falar de como o coração se desfaz em mil pedaços quando as nossas palavras doces e os nossos abraços de consolo não aliviam a dor que um amigo sente.

E eu escrevi. Sobre isto e mais ainda, que agora a memória não me ajuda a recordar. Mas apaguei, calando os pensamentos. Porque, simplesmente, nas palavras não cabia a realidade do que sinto face a isto. E, por isso, hoje retomei o assunto, não para falar dele, apenas com uma certeza.
Eu não sei lidar com isto.

Do ser(mos)

Aconteceu com naturalidade. Com a calma de um mar sossegado, de ondas pequenas que molham gentilmente os pés de uma criança. Não foi pressentido. Ou talvez o tenha sido, sem que lhe dessem o valor que hoje é seu. Surgiu assim. Como o coração, que bate acelerado, sem se importar de como bate. Forte. Como uma artéria que pulsa o sangue, dando vida. Inequívoco. Como uma luz negra aos olhos de um cego. Murmurado. Como um tinido que se instala e nos apura o ouvido. Táctil. Como se fosse áspero, crespo, acidentado, irregular, e também suave, mimalho, ternurento.

Critérios, não houve. Não há. Não são tidos em conta a cor da pele, o peso ou a altura. Desengane-se quem acredita que interessam somente os bons. Ou apenas os de maus hábitos. Não se aceitam respostas e certezas e as previsões ainda não são bem-vindas. As alegrias de nada valem, se não caminharem com as tristezas. A seriedade é enfadonha, e a estupidez desprezível. Desconhecem-se as virtudes, desprezam-se os defeitos.

Convençam-se aqueles que consideram que, ainda assim, não foram escolhidos criteriosamente estas pessoas. Escolheu-se o brilho contestador do olhar e a matiz inquietante da retórica. Valorizaram-se aqueles que fazem oscilar, a si e a cada um, entre o louco e o santo. Que não dão respostas e dilatam as dúvidas. Que mostram a cara, a medo, mas confirmam a transparência da alma nos gestos. Que não dispensam colo e ombro, sem antes oferecer uma gargalhada. Que são metade loucura, metade seriedade. Que já abandonaram a inocência das crianças, mas ainda não têm a sisudez de um adulto. Perduraram aqueles que querem ser e percebem que a normalidade é apenas uma cegueira pateta e estéril.

domingo, 9 de agosto de 2009

As saudades, essas são reais e não são só minhas. As saudades têm a forma de mesas de esplanadas, reflectem-se num colo alto com gelo derretido dentro, num carro velho impregnado de vestígios de crimes cometidos, num café esquecido que arrefeceu na chávena e no prato do dia partilhado numa tasca. As saudades têm número de porta e nome de rua. E contra isso, nada.

sábado, 25 de julho de 2009

A noite

de ontem. Dificilmente consigo imaginar melhor forma de iniciar as minhas férias de Verão 2009. Duas guitarras, três pessoas talentosas, seis amigos. Um jantar delicioso ao ar livre. Ar fresquinho, entrecortado por uma brisa agradável. E dois anfitriões muito simpáticos.
Obrigada pelo momento.

muach*

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Alma, por Louis Vuitton


Não fosse esta fofura custar mais do que o orçamento doméstico de qualquer família de classe média-alta e já eu lhe tinha declarado o meu enamoramento. Estou apaixonada. Desconfio, ainda assim, que este amor só será correspondido lá para o ano de 2050. Ou quando eu ganhar o euromilhões. Ou quando eu assaltar um banco.
(decorar o número de telemóvel de alguém é, sem dúvida, uma prova de amor. pelo menos, para mim, que nem o dos meus pais sei de cor)

Qualquer dia, fico sem amigos.

Ontem, em conversa, cheguei à conclusão que, um dia destes, fico sem amigos. Não sou o tipo de amiga que cuida, que liga e envia mensagens várias vezes, sempre pronta a dar mimo. Sou mais do tipo, 'precisas de alguma coisa? não importa o que seja', e estou lá para ajudar no que for necessário. Sem peneiras, sem panos de água morna para bajular o mimo e a graça.
Para alguns isso não basta. Eles gostam daquela preocupação constante, como se o mundo parasse, se naquele dia eu não der notícias nem quiser saber a rotina deles. Isso eu não dou, e nem é por mal, é por personalidade. Gosto de pessoas que, mesmo depois de um período sem contacto, são as mesmas e nos tratamos como se nunca o tempo tivesse passado. Gosto de estar com as pessoas e não de as conhecer através de um qualquer aparelho electrónico. Não levo a mal se aquela amiga não não me liga quando faço um dói-dói no dedinho, e espero que ela faça o mesmo. Mas gosto que me digam quando sou 'má amiga' e não suporto falhas de carácter.

Ser minha amiga é fácil, ter uma amiga como eu não sei. Resta-me pensar que, se são meus amigos, aceitam-me como sou. Assim a roçar para o insensível.

No matter what I say

My face will always tell the truth.

It hurts like hell have to lie to set you free.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Did you say it?

'I love you. I don't ever want to live without you. You changed my life'. Did you say it? Make a plan. Set a goal. Work toward it, but every now and then, look around. Drink it in, 'cause this is it. It might all be gone tomorrow.
[Grey's Anatomy, season 5, episode 24]

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Já não é mais.

Perdi-me de mim, não me lembro quando nem porquê. Sei que foi algures em Maio. Pelo caminho, perderam-se dores, secaram-se lágrimas, curaram-se feridas, viveram-se momentos, fizeram-se memórias e disseram-se muitas palavras.

Perdi-me, não sei se por causa dele ou por mim. A culpa é dele, mas também pode ser minha. Pelo meio,cantaram-se músicas, escreveram-se poemas, estreitaram-se laços, ofereceram-se beijos e distribuíram-se abraços.


Perdi-me e não me encontro. Pelo menos, não encontro mais a pessoa que era. Prefiro continuar a perder-me assim do que encontrar-me exactamente igual ao que era antes.

Afinal, sou mais feliz assim... Acho que foi em Maio!

Pretensão

Os telhados daquela cidade nunca lhe tinham parecido tão desalinhados. Era admirável a curva perfeita do jorro de água e a forma como uma gota se desfazia em mil quando se encontrava com outra. A noite estava límpida, sem vento e o mundo baloiçava certezas como um cigarro entre os dedos. Ela pensava nele como num estranho, sem nome. Nunca lhe vira o bilhete de identidade. Nunca lhe mexera nos bolsos à procura de um cigarro ou de um isqueiro. Nunca combinaram um encontro. Nunca partilharam o futuro.

Quando se partilha uma cama, já se está a partilhar tudo o que é possível partilhar. E as verdadeiras camas são os corpos que abraçámos.

Camas em quartos de hotel. Pensões de qualidade duvidosa. Residenciais. Camas de areia na praia. Camas no chã, no sofá, no tapete. E um coração, seguro entre duas mãos, para que não andasse à toa. Passou no café do costume, mas não entrou.

- Engana-se quem diz que ama com todo o seu coração.
- Queres um cigarro?
- Não quero que te apaixones por mim.
- És a pessoa mais pretensiosa que conheço.

Isto é que era doce!

Doce, doce, daquele mesmo bom, bom era ter todos os dias uma hora para almoçar descansada, oito para dormir, cinco minutos para comer de quatro em quatro horas e sair da faculdade antes das oito da noite. 15 minutos de silêncio sem ser quando estou a dormir e o jantar a sair para a mesa quando chegasse a casa era mesmo óptimo, mas não ando muito ambiciosa ultimamente. E daqui um bocado vou fazer o meu sono da sanidade que ontem parece-me que foi a semana passada!

domingo, 28 de junho de 2009

Leões

É a fonte mais imponente que os meus olhos jamais verão. O estatuto soturno de quatro leões, que observam com olhar superior o recinto, é observado pelas pessoas que estacam, espantam-se e retomam a pasmaceira dos seus dias.

Estive lá há dias. Eu, ele e ele. Nós. Fomos lá, em prole daquele orgulho desmesurado que sentímos quando vestimos aquele traje negro e aprendemos a salvar o mundo do seu destino por quinze minutos que seja. E na Fonte dos Leões, por tudo aquilo que representa, tudo aquilo que já observou e pelos segredos que vai sempre guardar, deixámos a alma de molho. E ganhámos um novo folêgo, para continuar em frente.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

325 dias.

Chega não sabes bem como. Começa com um amor desamor, que te vai enlaçando. Primeiro, só mais um dia, só para conhecer. Depois, um mês, só para sentir o sabor. A seguir, um ano, para deixar lembrança. Passam-se três, passam-se quatro. E quase nem sentes o tempo que corre apressado, parece que foge de ti.
Vives sendo bipolar para os outros, fazendo todo o sentido para ti. Vives duas vidas paralelas que num ponto se entrecruzam, deixando-se de se distinguirem aos teus olhos. Sentes-te a crescer exponencialmente, bebendo das palavras de quem sabe o que diz. Vives tu, apenas tu, não necessitas de máscaras, e sabes que naquele lugar podes ser como quiseres. Unes-te a uma dor pequenina, mas aprendes que a dor traz consigo o doce sabor da conquista. Ensinam-te que deves ser forte mas apercebeste que todos podem chorar. Passas a acreditar que chorar não é uma fraqueza, porque ao teu lado, mesmo que as mesmas lágrimas lhe escorram pela face saudosa, estará sempre alguém que enxugue as tuas. Conheces gente, dás-te a essa gente que antes não querias contigo. Vives, vives, vives. Vives a mil. Vives tudo aquilo que consegues agarrar. E esforçaste para agarrar com ambas as mãos, não vá ela teimar em fugir. Sentes-te gente. Sentes os outros como gente.

E no final? E quando passarem os meus 325 dias? O que serei eu? Desaprendi a viver como antigamente. Já me parece tão longe aqueles dias sem rumo. O que serei? Serei apenas memória? Serei recordação? Serei mais um na tradição? Nada, serei nada para aqueles que ainda ficarão neste mundo que agora é tanto meu. Restam-me os meus 325 dias para viver o mais que puder, mas também para aprender a ser nada. Apesar deste ser um nada cheio de tudo.

Boas notícias!

Segundo o jornal americano Archives of Internal Medicine - pelo nome pomposo, deve ser credível - as mulheres que consomem álcool regularmente são mais saudáveis, uma vez que o álcool evita o desenvolvimento de doenças relacionadas com a pressão arterial e com o coração.
Os pesquisadores entrevistaram 320 mulheres entre os 35 e os 69 anos que tinham sofrido um ataque cardíaco e compararam-nas com 1565 mulheres saudáveis da mesma idade. Além de questionadas sobre o consumo de álcool, ainda respondiam sobre o uso de tabaco, alimentação e actividade físico. Resultado: as mulheres que bebiam uma vez por dia tinham 31% menos hipóteses de vir a desenvolver uma doença cardiovascular e o risco aumentava em 30% para aquelas que consumiam ocasionalmente. Além disso, as mulheres que bebem álcool duas a três vezes por semana são mais divertidas do que aquelas que não consomem nada.

Nos homens, estudos mostram que o consumo regular e diário de álcool aumenta o risco de problemas cardíacos severos.

Por isso, já sabem meninos: nos jantares, quem enche o copo somos nós! :D

Agora.

Chego a ter saudades do que até nem gostava muito. De pé, contigo, uma boa conversa e um copo de cerveja fresquinha no Piolho.

Para quem não conhece*


* a música do post anterior.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

De quem não se dá por satisfeito.

a tua pequena dor
quase nem sequer te dói.
é só um ligeiro ardor
que não mata mas que mói.

é uma dor pequenina
quase como se não fosse.
é como uma tangerina,
tem um sumo agridoce.

de onde vem essa dor,
se a causa não se vê.
se não é por desamor,
então é uma dor de quê?

não exponhas essa dor
é preciosa, é só tua
não a mostres, tem pudor
é o lado oculto da lua.

não é vício nem costume
deve ser inquietação
não há nada que a arrume
dentro do teu coração.

talvez seja a dor de ser
só a sente quem a tem
ou será a dor de ver
a dor de ir mais além.

certo é ser a dor de quem
não se dá por satisfeito
não a mates, guarda-a bem
guardada no fundo do peito!

(Rui Veloso - A tua pequena dor)

Deixaram-me as dores de coração. Posso agora apreciar aquela que me impele para ser sempre mais, sempre melhor. Dor pequenina, que não mata, mas que mói.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

domingo, 7 de junho de 2009

E eu ainda não vos disse que...

ESTOU FELIZ!

Distraída.

Este blogue já existe há tempo suficiente para ser pai. Este blogue já tem em si um Outono, um Inverno, uma Primavera e quase um Verão. Este blogue já tem 99 posts. Este blogue já leu textos em que ri, textos em que chorei, textos de mim e textos de outros. Este blogue já foi desabafos e já foi felicidade. Este blogue já me acompanha há tanto tempo.

Mas só ao centésimo post reparei que posso colocar etiquetas nos textos que escrevo.

Tu.

Invejo-te porque vives livre.
Invejo-te porque consegues deixar a tua marca.
Invejo-te porque, por mais que tentem e te forcem, nunca te conseguem vergar.
Invejo-te porque és único na tua maneira de ser e estar.

És a luz que me impele para os meus momentos de loucura, tão saborosos.
Sei que sem ti não seria o que sou agora.
Foi contigo que venci o meu mundo, que me extrapolei.
Obrigada por estares agora presente, por te dares a conhecer.

Sabes agora que sem ti não conseguiria, apesar de muitas vezes duvidar de ti.
Mas agora não, sei que tinhas razão.
Agora acredito em destino.
Agora acredito que é possível nadar até à lua ou subir até à maré.
Agora acredito que haverá certamente um fim.

Aprendi contigo a ultrapassar os meus limites.
Aprendi contigo a pensar mais longe. Ou a não pensar.
Aprendi contigo a abrir a mente.
Aprendi contigo que o melhor da vida é sermos livres.
Aprendi contigo que temos de ser melhores pessoas depois dos outros passarem por nós.
Aprendi contigo que nada é nosso e que tudo nos pertence.
Aprendi contigo a ser um bocadinho diferente dos outros.
Aprendi contigo que continuo a ser vulgar mas que sou especial entre os especiais.

Espero que no fim eu te encontre. E claro, espero uma noite de loucura, de perdemos as estribeiras, de nos deixarmos ir, de sermos só nós e todos os outros. Será a melhor da minha vida.

Tenho todos que preciso.

Perdi a paciência para ironias, para coisinhas sem qualquer importância e sem sentido. Consigo, finalmente, ser objectiva e deixar tudo muito claro, a quem quer que o seja. Perdi a paciência para falinhas mansas, para engolir comentários e pensamentos, para medir tudo aquilo que pensava.
Perguntam-me se estou apaixonada por alguém, por ter mudado. Por estar mais solta, mais feliz. O que devo responder? É claro que estou. Afinal, a minha vida é feita de paixão, de momentos e pequenas recordações felizes. Estou apaixonada por um corpo, por uma alma, por um sorriso, por um olhar, por uma voz, por uma maneira de ser e estar. Tão perfeitos e tão cheios de sentido que me parecem irreais, tão diferentes do que sou.

Alguém está insatisfeito? Alguém se sente magoado ou ofendido? Alguém se sente enganado? Eu sinto-me incomodada. Com mesquinhices, com comentários maldosos, com insultos, com tentativas de manipulação. Nós somos nós e depois, depois de nós ninguém tem nada a ver com isso. Afastem-se, se não gostam do que vêem. Tenho todos aqueles que preciso!

Ontem.

Acabei a tua frase. E tu acabaste o que eu estava a dizer. Foi estranho. 'Andam a passar demasiado tempo juntos', disse alguém, surpreso com tamanha sintonia. O facto de isso ter acontecido talvez tenha surgido por ter crescido contigo nos últimos tempos, por ter aprendido uma calma e uma maturidade que me faltavam. Obrigada por me fazeres crescer, em todos os sentidos.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Compromisso.

A vida é demasiado curta para andar metida no bolso. Para ficar contida no riso ou no choro, no grito ou na gargalhada, na palavra doce ou no palavrão. A vida é demasiado efémera para se perder em hipóteses, para não ser experimentada ao pormenor. A vida é demasiado breve para para ficar dobrada na gaveta do socialmente correcto. A vida é demasiado rápida para a pouparmos, para ser defendida dos excessos. A vida é demasiado rebuscada para ser explicada com a coerência necessária, analisada em números. A vida é demasiado pequena para não considerarmos todas as opções, para ser deixada ao acaso. A vida é demasiado valiosa para ser desperdiçada, para não ser esmiuçada na emoção e nos sentimentos. A vida é demasiado habitada por pessoas para ser solitária. A vida é demasiado cheia para ser vivida na ignorância.

A vida é o nosso compromisso maior.

Quando tiver de falar.

Tenho muitas coisas que lhe queria dizer. Tantas e em proporção com o medo que sinto ao pensar que um dia breve, porque a vida é demasiado curta para ser apenas contada, vou ter de lhe contar a verdade.

Nesse dia, poderei falar-lhe da primeira vez que o vi. Não esqueci o momento. Ou da segunda. Ou da terceira. Mas nenhuma foi definitiva, porque talvez à milionésima vez que olhei para ele vi uma pessoa diferente, que me surpreendeu. Nesse dia, poderei falar-lhe da primeira vez que conversámos sem pedras na mão, prontas para atirar um ao outro, e percebemos o quanto éramos parecidos. Fiquei surpresa pelo tanto que tínhamos em comum: pensávamos o mesmo, éramos da mesma forma e, ao mesmo tempo, tão diferentes. Nesse dia, poderei falar-lhe do momento em que me apercebi que algo tinha mudado, o quanto ele me fazia bem, o quanto ele me divertia. O quanto ele tinha mudado a minha vida. Nesse dia, poderei falar da sua paixão pela vida e pelas coisas, e o quanto a sua entrega me atrai nele. Nesse dia, poderei falar da sua teimosia e coragem, e do quanto isso é bom para mim.

Um dia, eu dir-lhe-ei isto tudo. Olho no olho.

Antes e Depois. Dele.

O que era rancor, tornou-se amizade.
O que era desprezo, tornou-se curiosidade.
O que era orgulho, tornou-se humildade.
O que era incerteza, tornou-se certa.
O que era medo, tornou-se coragem.
O que era tristeza, tornou-se felicidade.
O que era incompreensão, tornou-se entendimento.
O que era ignorância, tornou-se conhecimento.
O que era errado, tornou-se correcto.
O que era covardia, tornou-se ousadia.
O que era mentira, tornou-se verdade.
O que era desunião, tornou-se companheirismo.
O que era negação, tornou-se aceitação.
E o que era desamor, tornou-se amor.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Ela.

As emoções fortes, daquelas que nos fazem rir ou chorar às gargalhadas, já terminaram. Agora resta a alegria da vivência e a mágoa da saudade que já se teima em instalar. E resta dizer um obrigada sentido por todos os momentos vividos este ano. Foi, sem dúvida, um ano memorável. O ano em que, talvez, tenha crescido mais. Como pessoa e como praxista, uma vez que tenho a felicidade suficiente de ter ao meu lado pessoas de quem posso beber sabedoria e amizade, porque fazem da sua vida um exemplo de humildade e tradição.

Contudo, falar desta semana que terminou sem mencionar a minha madrinha seria pura hipocrisia. Ela, a minha doutora. Ela, o motivo pelo qual esta serenata foi mais sentida do que qualquer outra. Ela, porque sem a minha doutora a vida académica perde um pouco do seu sentido - só faz sentido vivê-la quando estamos acompanhadas. Ela que, de mansinho, numa atitude muito sua, esteve sempre presente e tornou todos os momentos especiais.
Obrigada por tudo, querida madrinha. Sem ti tudo faz menos sentido.

Queima das Fitas 2007+1 / 2009

De mais uma queima enquanto estudante. De mais uma queima com direito a tudo. De mais uma queima com uma intensidade diferente. De mais uma queima com uma magia diferente. De mais uma queima com memórias inapagáveis. De mais uma queima de espírito diferente.

De uma queima única onde senti especialmente a nostalgia da saudade e o entusiasmo do início. De uma queima eufórica onde nos senti a todos como um. De uma queima especial onde o sentimento de confortável voltou a ser compatível com o traje em Maio. De uma queima inesquecível partilhada com gente que não pensaria tão próximas nesta fase do meu percurso académico.

domingo, 3 de maio de 2009

Serenata.

Quando o Porto se enchia de cores e paixões, olhei-te de mansinho pelo canto do meu olho. Abracei-te de seguida. Quis-te mais que nunca. E no som das guitarras, quis que o tempo parasse naquele exacto momento.

O meu desejo é dar-te um beijo
É ter desejo de te beijar
Perdidamente, como quem sente
Que o teu sorriso vai acabar

domingo, 26 de abril de 2009

Hoje apaixonei-me.

E tu, passou-te ao lado?[Explicação lógica para a imagem: lembram-se daqueles filmes antigos em que elas levantam a perna ao mais doce toque de dois lábios? Eu hoje sinto-me assim. I'm foolish, I know, but I love it]

Não me digas....

Já é tarde, tendo em conta a hora madrugadora do dia de hoje. Sinto-me mais cansada do que sempre e sei que a próxima semana será, muito provavelmente, uma das semanas mais stressantes e agitadas da minha vida. Mas não consigo dormir. Simplesmente o sono não chega, nem bebendo leite quente, nem aconchegando-me no calor dos cobertores. Muito menos fechando os olhos, porque lá dentro existe uma única imagem, desperta em toda a sua essência.

Será que eu estou magoada com alguma coisa? Será que eu algum dia vou acertar? São estes os pensamentos que chegam. Fogo, tu não me digas que... Será que não posso culpar outra coisa? Será que não existe nenhum remédio que faça dormir sossegada todas as noites que restam da minha vida? Ai que porcaria, tu não me digas que... Será que já estive assim antes? Porque não consigo pensar noutra coisa? Porra, tu não me digas que eu estou a apaixonar-me?

Quero lá saber!

[uma quase continuação do post anterior]

Hoje os pássaros não cantaram. Hoje o sol não brilhou. Hoje não ganhei o euromilhões. Hoje não tive nenhuma boa notícia. Hoje não fui aos saldos. Hoje não comi a minha comida preferida. Hoje não tive um encontro. Hoje não recebi uma boa nota. Hoje não vi a minha conta bancária crescer. Hoje ninguém me elogiou. Hoje não reencontrei um amigo que não via há muito. Hoje não fui ao cinema. Hoje não comi gelado. Hoje não vi Anatomia de Grey. Hoje não li um bom livro. Hoje não foi um dia especial.

Mas que importa isso se eu estou feliz?

When did that happen?

And how do we make it stop? [Grey's Anatomy, Season 1, Episode 5]

As minhas primeiras impressões não funcionam. Muitas foram as pessoas com quem embirrei à primeira vista e que agora são minhas amigas. Não acredito em primeiras impressões por esse mesmo motivo - comigo elas enganam, iludem. Mas foi preciso algum tempo e muita reflexão para chegar a esta conclusão, que veio ontem, no meio de uma cerveja e uma serenata e que me atingiu como um bang perfeitamente audível.

Porque ele era daquelas pessoas com quem eu embirrava solenemente. Uma implicação muito pessoal, daquelas em que não gostamos de nada naquela pessoa e tudo o que faça, sejam ou não actos antagónicos, nos parece mal. Não gostamos, por todos os motivos e mais alguns. Mas sem nunca termos uma explicação lógica para o sucedido. Mas tenho-o conhecido melhor, por circunstâncias da vida.

Por isso este é daqueles post's de arrependimento. Não devia ter-te chamado tantos nomes como fiz. Não devia ter achado que eras um idiota arrogante e presunçoso. Não devia ter-te voltado as costas tantas vezes quando estavas a falar. Não devia ter perdido a oportunidade de aprender alguma coisa contigo. E não devíamos ter feito o que fizemos ontem.

Pessoa melhor.

Quero tornar-me alguém melhor. Menos crítica, menos agressiva nos modos, menos cruel. Quero deixar que o melhor de todos venha ao de cima e seja mais importante que o pior. E às vezes eu quase consigo num exercício que, de tão difícil, se torna penoso. Geralmente, o auto-controlo vence. O problema surge quando me puxam pela língua, quando fazem algum comentário sarcástico. Caldo entornado, como se costuma dizer. A coisa descamba numa troca de parvoíces por ali fora.

Mas eu tento. Eu tento quando as pessoas do metro me empurram, quando o condutor da frente vai a 20km/h, quando me fazem esperar uma manhã inteira por alguém que não vem, eu tento quando tenho de me repetir cinco vezes para um velhote surdo lá do centro de saúde. Eu tento.
Mas perco facilmente a paciência. Breath in, breath out. As coisas más existem para darmos valor às boas. Breath. As pessoas são boas e viver é bom. Pará de te queixar. E de criticar. E de praguejar. E de dizer tantos palavrões.

Oh que se f***. Não seria a mesma se me transformasse na Madre Teresa ou na Princessa Diana. Também não sou nenhuma megera. Por isso, que se f***.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

O Senhor Certo.

Ultimamente, questiono-me sobre uma coisa: nós gostamos realmente daquela pessoa ou gostamos da ideia que fazemos dela? É que são coisas diferentes, apesar de uma primeira leitura desatenta poder pensar que os meus fusíveis mentais queimaram de forma definitiva. Se acham que não é diferente, expliquem-me porque pensamos nós tantas vezes "mas o que raio é que eu vi naquele ser?".

A vontade do princípe encantado é tão avassaladora que nos leva a construir uma ideia - por vezes, meramente isso - daquilo que julgamos ser a nossa alma gémea materializando-a num corpo que encaixe disfarce tudo aquilo que não queremos e onde seja possível imaginar aquilo que desejamos. Pensamos no que ele gosta, não gosta, diz, pensa, quer da vida. E nós vemos tudo aquilo que queremos ver nele. E andamos felizes assim até à primeira escorregadela do Senhor Certo. Nesta altura fechamos os outros e tapamos bem os ouvidos. I don't care, gritamos ao mundo. É a ilusão maravilhosa de que o Senhor Certo existe e, felizardas que somos, gosta de nós e está ao nosso lado.

Mas há a segunda metida da pata na poça. A terceira, a quarta e a quinta... e o homem transforma-se numa nódoa negra. É quando percebemos que o Senhor Certo de Antes já não é o Senhor Certo de Agora, e muito menos será o Senhor Certo de Amanhã. Houston, we have a problem. Duas soluções para o caso: ou sofremos de um esquizofrenismo momentâneo e repentino e mudamos hoje o que queríamos ontem, ou então o Senhor Certo passou das marcas e transformou-se, definitivamente, no Senhor Completamente Errado.

É então que voltamos à realidade. Como é que ele nos conseguiu enganar tão bem? Minhas queridas, ele não nos enganou. Nós é que quisemos cair nesse doce engano, criado por nós. Mas, por mais que custe admitir, ainda bem que assim é porque nunca é uma perda de tempo perseguir um sonho, um desejo e viver intensamente as coisas. Vale sempre a pena sentir o coração aos pulos só por saber que ele irá chegar, as mãos a tremer, a voz a falhar e as palavras a sairem engasgadas. Por isso, no matter what. Estar apaixonado por alguém vale sempre a pena. É que o Senhor Certo só existe num limite temporal. O agora.

Levo-vos comigo para a vida.

Vejo as fotografias e, por muito que quisesse, elas não me deixam mentir. Mais gordos. Mais altos. Mais palermas. Mais carecas. Mais apaixonados. Ou menos. Muito mudou, mais ainda permaneceu igual. A cumplicidade que se gerou entre nós os cinco - perdoem-me os acrescentos mais recentes - é evidente e não se disfarça ao olhar de ninguém. Vivemos muito juntos e já houve alturas em que não tínhamos sequer intimidade entre nós. Contudo, a vida adulta chegou e, apesar de irmos estreitando laços, fomos igualmente sendo capazes de separar as águas. É assim que compreendo uma amizade.

Mas esta semana tive saudades vossas, e muito por culpa minha. Sei que me sobrecarreguei de obrigações e tarefas por uma coisa que a nada vos diz respeito e que até podem não compreender. Sei que a culpa de não poder estar convosco é minha. Mas sinto saudades vossas, talvez como nunca senti. Por isso, deixo aqui o pedido de desculpas merecido e imploro para que arranjem um tempinho para mim dentro da minha agenda a abarrotar de coisinhas sem importância - mas para as quais contam comigo - para estarmos juntos. Outra vez.

Aos amigos. Porque é a vossa presença que me faz ser quem sou. Porque são as vossas palavras que me dão conforto para continuar. Porque são vocês que me fazem ter a certeza que posso avançar, às vezes de forma pouco irreflectida, porque vou ter sempre comigo alguém que me apoiará por maior que seja a asneira que faça. Porque são vocês que me fazem ponderar esses tais actos irreflectidos. Porque é convosco que sinto o carinho, a cumplicidade e a ternura que só uma amizade pode oferecer. Porque é convosco que quero continuar a partilhar momentos. E porque este blog fala dos amores que trago no coração, e esse amor também vos pertence.

[aos outros amigos que fui arrecadando na vida e que não são referidos acima, apesar do papel importantíssimo que têm na minha vida e da certeza que gosto de vocês daqui até à lua, peço a compreensão. Não se esqueçam que a tradição diz que não há amor(es) como o(s) primeiro(s)]

domingo, 29 de março de 2009

Uma vez só.

Toda a gente tem dentro de si um coração faminto, um pouco somente ou de leão. Toda a gente quer um poiso seguro, um lugar onde assentar e que lhes inspire segurança. Todo o mundo precisa de um corpo. Toda a gente precisa de café, cigarros, uns trocados e amor. Toda a gente precisa de uma taxa de risco, de um teor alcóolico, de um pouco de poeta e de louco. Toda a gente quer a nudez. Toda a gente quer a sua vez.

Eu quero fumo, beijos, outra vez com ele. E talvez saber o seu nome. Porque a vida é isso, uma vez só.

Aproximam-se tempos de mudança, mas...

enquanto houver vento e mar, a gente vai continuar!

domingo, 22 de março de 2009

Faz.

Toca-me. Beija-me. Olha-me. Sorri-me. Encontra-me. Dá-te. Procura-me. Anseia-me. Permanece. Segura-me. Abraça-me. Faz-me. Acaricia-me. Diz-me. Têm-me. Está. Encanta-me. Perde-me contigo. Deseja-me. Brinca. Mima-me. Une-te. Sê.

Faz tudo isto hoje. Quer-me hoje, agora. Não me queiras amanhã. Porque amanhã o tempo pode já não ser nosso.

Passam-se horas.

Passam horas. As minhas mãos ocupam-se, as tarefas chamam-me de forma cada vez mais insistente. Passam horas, momentos, ocasiões, o tempo esvais-se em fumo. Só tu não passas. Como se te tivesses tornado eterno na minha vida. Às vezes penso-te tão próprio que não sei como poderia dissociar a minha vida da tua, outras vezes é o meu desejo mais ardente.
Contudo, sei que não correrias atrás de mim se algum dia decidisse voltar-te as costas. Sei também que me arrependeria se fosse embora agora. Sei de tudo o que perderia se forçasse a tua saída da minha vida. Sei que não voltaria a ver os teus olhos cor de avelã nem sentiria a mais sincera gargalhada da tua boa disposição. Mas, porventura, também não sei porque continuo a amar-te se não me amas.

Da cidade do meu coração.


Há locais nesta cidade que, pelos momentos que presenciaram, às vezes no escuro da noite, outras vezes às claras de um dia, terão sempre um local especial no cantinho das recordações. Esta cidade tem um encanto especial, uma mística especial, um luz diferente de todas as outras e um rio tortuoso que a acompanha, embelezando-a só a si. Tem também pessoas carinhosas, hospitaleiras, a quem é mais importante bem dar do que receber. É a cidade dos meus encantos, na qual me perco em noites cada vez mais belas.

sábado, 14 de março de 2009

Hoje.

É, sem dúvida, um dos dias mais histéricos (e felizes) da minha vida.
Obrigada. Não te vou desiludir.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Eu, fumadora, me confesso.

O cigarro chegou tarde e de mansinho. Começou na fase adulta, com todo o conhecimento do que fazia no meu corpo. Começou com um por caso, tornou-se relacionamento sério. Hoje não fumar é como viver sem respirar. Fumar é uma pequena cerimónia que marca sempre um princípio: do dia, do trabalho, do intervalo, do alívio, do prazer, do almoço, do jantar. O cigarro divide-me, consola-me e encoraja-me.

O cigarro também é companhia. Sobretudo para quem está sozinho. É um amigo fiel, é um momento de abstracção que torna tudo tolerável. Mas, principalmente, fumar serve para pensar. Quando me perco num argumento, pego num cigarro e penso. Não me levanto, não me agito, não abro a boca, não me distraio. Fumo e procuro com paciência a asneira. O cigarro concentra e acalma. Restabelece, por assim dizer, a normalidade.

Por detrás de um cigarro, o mundo parece mais seguro. Mesmo se andam por aí a garantir que não.

domingo, 1 de março de 2009

Não deixe de fumar.

Não, não é uma ironia. Nem sequer uma piada maldosa. Não é tampouco uma manifestação de repúdio aos fumadores ou um incentivo a retirar anos de vida. Até porque esses argumentos fazem parte do discurso daqueles melgas que querem que os outros parem de fumar - o que não é o meu caso. E, novamente, não é uma ironia.

Nesta guerra do tabaco, o que ressalta dos dois lados é um tom de imperativismo: de um lado, os chatos que pregam o clássico "deixe de fumar" e do outro os donos das empresas tabágicas que apregoam o tambén seu "fumar é legal". E eu, como qualquer vulgo humano, também sou acometida por ímpetos totalitaristas mas que não costumam passar de cepa torta. Pode não parecer, mas eu sou mais ou menos boa pessoa.

E, apesar de soar como uma ordem, o título não-ironico deste texto deverá ser entendido mais como um conselho amigável do que como um terceiro imperativo. No entanto, no meu totalitarismo, este post deve ser entendido como um belo e sonoro "fodam-se". Os chatos, claro. Porque me incomoda essa preocupação excessiva dos outros com a saúde alheia: se fumo, se bebo, se uso drogas, se passo o dia sentada, se como porcarias ou se leio livros de auto-ajuda. Isso é problema meu!

O que eu quero dizer é que a exaltação ao bem-estar e a busca desesperada por qualidade de vida deve ser voluntária e pessoal, e não motivo de campanhas e histeria colectiva. Deixem-nos fumar, ora bolas! Prazer também é qualidade de vida. E sim, eu sei que há aquele argumento hipocondríaco de que os fumadores passivos morrem injustamente aos poucos. Paciência, todos estamos a morrer injustamente aos poucos, pelo simples facto de vivermos. E o cigarro é apenas um dos ícones do nosso rol de problemas: a não ser que surjam estudos que digam que os fumadores são os principais causadores do aquecimento global.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Uma multidão à minha volta.

E continuo a sentir-se sozinha. Como se falasse numa língua diferente. Como se fosse uma estranha para todos. Estou rodeada de gente mas ninguém parece conseguir chegar até a mim. Tudo é circunstancial, nada é realmente importante. Sinto-me como se os outros não quisessem saber, como se lhes tivesse de soletrar a minha tristeza para que soubessem dela. E não queria ter de o fazer. É a sensação de que não há tempo, não há paciência, não há vontade para mim. E os dias passam a correr. Quarenta e três dias depois. Oh Deus, estou a perder-me. Preciso de presença, de toque, de mimos e olhares. Da certeza que alguém gosta de mim. Preciso de energia para me sentir vivia. Preciso, mas não queria pedir.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Aos amigos.

Haver alguém que nos arranque de uma apatia incaracterística, que nos sacuda o tédio e nos cole um sorriso nos lábios quando não o julgámos possível. Haver quem nos tire o cigarro e o isqueiro da mão, quem nos encha o copo de novo e de novo. Haver quem diga passa cá hoje ou vai ficar tudo bem, tem calma. Haver quem nos aqueça o corpo com um casaco forte. Haver quem nos tape quando adormecemos exaustos em sofá alheio e adormeça ao nosso lado. Haver quem apague as luzes e deixe cair no escuro uma palavra de consolo.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Deparei-me com...

Sentado no cais
E ver ao longe o mar
E a ponte sobre o Tejo
Se é tão bonito

É por causa de ti

E deste meu desejo

Afinal vale a pena

Pensar em mais ninguém!


Só gosto de ti

Porquê?! Não sei

Mas estou bem assim

E tu também! (2x)
(Heróis do Mar, Só Gosto de ti, 1985)

[não estou tão bem assim, mas o resto até é verdade]

A arte de não se apaixonar

É quase um habitué escrever sobre a paixão. Ou porque as pessoas estão muito apaixonadas, envolvidas num estado de caramelo, ou porque andam pelas ruas da amargura por uma paixão mal resolvida. O que passa tantas vezes despercebido é o desastre pela incapacidade de se apaixonar. Na grande maioria das vezes, não somos capazes de nos apaixonar pela pessoa certa, o que a torna errada. É então que surge perigosamente a oportunidade de nos apaixonarmos pela pessoa errada que, tão somente pela existência desse sentimento avassalador, se torna certa.

Ainda me encontro da outra margem do rio, na insensatez da minha certa escolha errada.

Erros de vez em quando

É fácil cometermos erros. Basicamente é uma questão de probabilidade: com os milhões de horas que temos na vida, não daria para acertar sempre, claro. Daí surgem sempre aquelas situações em que penduramos um quadro de forma torta, esmurramos o carro a sair da garagem, confudimos o vizinho com outra pessoa ou nos apaixonamos pelo maior banana à face da terra. Um dia acertamos. Alguns erros são fáceis de resolver: levar o carro ao mecânico, pedir desculpa ao vizinho. A maioria desses erros têm solução fácil, nem que essa passe por dispensar aqueles eurozitos que temos guardados para aqueles sapatos fantásticos e comprar um substituto para a coisa.

Inevitalmente os maiores erros são aqueles que nos ferem ou que ferem as pessoas ao nosso redor. Magoamos quem amamos e falta-nos a coragem para pedir desculpa. E como qualquer ferida que não recebe tratamento atempado, piora, agrava-se, as conversas tornam-se circunstanciais e a relação arrasta-se, de forma lamacenta, sem novidade alguma. O tempo passa e continua o mesmo estádio de impavidez. Covardia de ambas as partes. Um erro quase sem conserto.

Vicky Cristina Barcelona

Noite de sexta-feira. Um balde de pipocas e mais um do Woody Allen. Um filme inspirador, uma cidade maravilhosa e um elenco cheio de pessoas bonitas. Uma comédia romântica nada cómica, mas inteligente e desempoeirada. Um relatar despretencioso das relações que hoje a sociedade tolera e até incentiva em contraponto com a insatisfação latente e insaciável que leva a uma permanente busca de um ideal de felicidade individual que, tantas vezesm nem se sabe muito bem o que é. Apenas se tem a certeza do que não é.

Um filme para mim introspectivo, confuso, díficil de digerir, pelo meu prisma pessoal. Fica para a posteridade que os amores mais românticos são os impossíveis e a certeza que um amor não correspondido é sempre mais satisfatório que um meio amor.

Aconselho o filme. Mesmo. Porque não me saiu da cabeça desde sexta-feira.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Grey's (III) 5x11

«Continua. A unica coisa que podes fazer é ser corajosa o suficiente para prosseguir. Lutaste, amas-te. Perdeste. Continua, Torres».

Estou decididamente apaixonada pela Anatomia de Grey, e o Mark Sloan é definitivamente o meu personagem favorito. Izzie Stevens, estás oficialmente destronada. ;p

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Hoje

Escrevi um post novo sobre mim. Em seguimento dos últimos posts. Quero dar notícias, mas queria que fossem boas. Portanto, fica em stand-by. Até daqui a uns dias. Quando for totalmente verdade.

Jeffrey Dean Morgan

Podia ser um Obama. Mas também podia ser este.

Sinceramente não sei. Não sei se é dos filmes que tem feito, se é por ser o Denny Duquette. Não sei mesmo. Mas este homem tem qualquer coisa que...

Obama

É impossível não gostar de Obama. O que eu precisava mesmo era de um Obama da minha vida. Bem alto, para me proteger. Inteligente. Elegante. Educado. Que dissesse coisas bonitas num tom melodioso. Que me enchesse de esperança de um final feliz. Que fizesse uma mudança na minha vida. Que me comovesse e, ao mesmo tempo, me enchesse de orgulho. Um autêntico príncipe, portanto.

«Sei que vou-te amar, por toda a minha vida»

Fala-se de amor, de paixão, de amizade. Cada vez se fala mais, mas cada vez mais estes sentimentos são breves, sem lágrimas ou saudades. A vida é, de facto, cada vez mais uma leviandade de momentos efémeros que -pessoalmente, porque ainda gostaria de acreditar em contos de fadas - impedem de um dia um avó contar a um neto a história do amor da sua vida. Aquela em que um rapaz se apaixona por uma rapariga da sua aldeia. Juntos, casam-se, têm filhos e amam-se até ao seu último suspiro nesta terra.

Uma história como a que os meus avós contaram, sábado, dia 24 de Janeiro de 2009. Uma história de amor duradouro e que se fortaleceu ao longo de meia década. Um amor especial, que me acompanha ao longo da vida e que fará para sempre parte da história dela. Um exemplo que admiro e que me enche de orgulho.

Os meus avós completaram sábado cinquenta anos de casamento, uma união firme apesar dos contratempos e das dificuldades. Entre eles, percebe-se que existe amor, amizade, respeito e compreensão. Hoje são pais de seis filhos, avós de quatro netos e um bisneto, têm uma família unida, feliz, onde todos sabemos que temos um colinho ou um puxão de orelhas à disposição, dependendo do momento da nossa vida.

Tiveram sábado o casamento que a vida lhes impossibilitou há cinquenta anos. Com toda a família, com muita emoção expressa nos olhares de todos. Porque, sim, há coisas que são eternas. E o amor dos meus avós é eterno.

Parabéns meus queridos! Apesar de saber que não lêem o blogue, não podia deixar passar este momento, que me faz acreditar que o amor eterno sempre existe.


(fotos de sábado, depois mostro as restantes a pedido de algumas, poucas famílias)

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Sexta-feira, diria que 13.

Uma coisa assim não pode ser ficção. Simplesmente, uma história imaginada, inventada, não se pode eternizar como esta. E muito menos magoar de maneira tão dura e penosa como esta.

Quem vê este filme da minha vida, qual mero espectador, pode achar que neste momento a minha existência se baseia no guião de um romance lamechas e meloso, incapaz de ganhar qualquer prémio de cinema. Confesso que compreendo porquê. É a minha atitude, a minha postura masoquista que o torna pouco interessante. É o tudo ou o nada. É a vontade de dar tudo de mim a alguém ou afastar-me para sempre quando acho que isso me vai magoar menos - ou facilitar a vida a outro alguém. Por isso controlo as lágrimas, a voz e guardo-me no único lugar seguro neste momento, em mim mesma. A ausência é grande, sim, sinto-lhe a falta, mas tenho de aceitar que estou melhor sem ele. Se sobrevivi doze dias na mais completa ignorância, como não poderei viver os outros?

Para bem da minha sanidade mental - que penso já me abandonou há uns dias - tenho de me afastar dele. Porque faz questão de me magoar propositadamente, sem qualquer memória dos bons amigos que já fomos. Porque me conhece tão bem. Porque me consegue atingir de uma forma tão profunda que, duvido, algum dia poderei superar.

Morri mais um pouco nesse noite.


BOA!

Não falas comigo. Eu não falo contigo.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Dia 11

Num momento uma borracha apaga uma frase importante. Num momento uma onda apaga as pegadas deixadas por alguém. Num momento, a chuva apaga o sol daquele dia. Num momento apenas. Eu queria apagar apenas num momento a identidade dele da minha consciência. Mas, por mais que me esforce, por mais que force, parece-me que não energia suficiente para, num momento, apagá-lo do meu pensamento.

Conclusão: gosto demasiado dele, não sei se gosto de mim. A cada dia que passa vivo no balanço entre o querer e o evitar, entre o conseguir e o falhar, sem apagá-lo da minha mente. Mas apago-me a mim. Aos poucos, apago a minha realidade. E, sinceramente, já nem me interessa o que vou encontrar amanhã!

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Tentar ser o que já se foi.

Há dias em que o espelho me engana.
Aquela que estou a ver não sou eu.
Duvido.

E ponto.

Tenho pensado muito nestes últimos dias. Tempo não me tem faltado para o fazer, afinal parece-me que entrei numa espécie de hibernar, onde só os compromissos realmente sérios me arrancam das muralhas de protecção que têm sido as paredes da minha casa e o esconderijo do meu quarto. Acompanhados de lágrimas, os pensamentos não fluíam, quase se afogavam em tanta lamechice. Hoje, num ambiente estranho ao meu quarto e à minha casa, muito mais ruidoso e confuso, muito mais cheio de vida e de morte, pensei sem ser preciso pensar. A decisão veio assim, logo que me apercebi que há mais do aquilo que vinha a ter desde o primeiro dia de um ano que se adivinhava quase fatídico.

Não o quero mais perto de mim. Isto mesmo. Nem agora, nem talvez nunca. Não quero saber se está vivo, morto, feliz ou contente. Não quero retribuir uma importância e um interesse que ele não me retribuí a mim. Chega! Basta de achar que a vida é assim e que as pessoas não desaparecem da vida umas das outras, porque quando não querem fazer parte simplesmente se evaporam por falta de interesse. Basta de pensar que ele foi o primeiro e vai ser o último.

Talvez sinta falta dele. Admito que sim. Talvez agora o sentimento de que o excluí da minha vida, que o tornei indesejável pese na minha consciência. Mas um dia ele não vai existir mais. Não vou sentir falta dele, das suas piadas, do seu corpo. Aliás, já tive e terei bem melhor. Não vou sentir falta das maiores decepções que tive na minha vida, das quais ele foi responsável. Não vou sentir falta das surpresas que nunca tive. Não vou sentir saudades, daqui a um dia. Porque ele é... aliás, ele não é.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Yo no creo en las brujas; pero que las hay...

las hay!

Hoje, a ler as notícias do dia no sapo.pt, por acaso, abri a página da astrologia, coisa que não faço habitualmente. E lá dizia isto:

Agora haverá uma maior compreensão do modo como o passado condiciona o comportamento presente. Há factos no passado que, no íntimo, marcam negativamente perturbando a liberdade e descontracção do espírito. Aproveite pois, neste período, para fazer uma profunda análise da sua vida e arrumr de vez com os fantasmas.

O que está perdido, perdido está.

Ninguém é insubstituível. E dispenso fantasmas na minha vida. Recuso-me a viver com eles.
É ano novo e, depois de um momento de quase colapso total, quero desintoxicar-me deste sentimento, deste alguém que intoxica cada célula do meu corpo. Quero continuar em frente, sem este vício. Não quero que sombras ou vultos me impeçam de continuar a viver, me façam repensar os passos certos que poderia dar e recuso-me a aceitar apenas migalhas de momentos que vão sem aviso e regressam do inesperado, apenas para me atormentar.

Quero usufruir de mim, sem vestígios de outro alguém. Quero desistir de ilusões de acções, porque nas palavras pareço não encontrar desilusão que baste. Quero abandonar o sentimento masoquista que toda esta situação pareceu despertar. Quero que tudo fique bem, quero ser mais uma a sobreviver. Já chega! Chega de me crucificar a mim própria por outro. Porque tudo tem um ponto final.

Os fantasmas serão aquilo que sempre foram: uma névoa indistintas nas recordações. Levarão consigo tudo aquilo que é meu e que algum dia lhe pertenceu. E eu voltarei a sorrir.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

De ontem.

Era manhã, e já ia mais avançada do que pensava. Olhei-me ao espelho. E estava deplorável: olheiras carregadas, cabelo desajeitado, maquilhagem completamente esborratada. Estava demasiado desarranjada, desconjuntada.

Não senti a necessidade de me esconder como vinha a fazer desde alguns dias até lá. Quebrei a rotina de carnaval que tinha adoptado. Deixei de lado o vestido brilhante, tirei os sapatos pesados. Saí assim. Sai sem um vestido pesado e uma máscara que tapava os verdadeiros sentimentos do meu rosto. Senti a terra molhada e as gargalhadas dos pequenos e dos maiores da família. Mas eu era um sufoco, uma lâmpada intermitente à espera de me acender ou de fundir.

Eu não posso não acreditar. Não consigo, apesar de já ninguém acreditar comigo. Apesar de toda a gente me querer convencer de que isto é apenas um pesadelo e que amanhã, ou então depois, me vou levantar novamente e continuar a sorrir como sempre.
O meu arrependimento é medíocre, apesar de ele ser uma presença idiota que não deveria ter a mínima importância. Um sentimento potente que me tira-me o ar. Oh meu Deus, que fui eu fazer?

2009 e...

...o mundo entrou em colapso.