Uma carta por dia nem sabe o bem que lhe fazia!

Carta para o melhor amigo
Sabes, acredito que os amigos são todos melhores, porque simplesmente são amigos. Se não forem do que melhor temos na vida, então simplesmente não o são. Tantos nomes poderiam receber o cognome de melhor amigo.. O mais antigo dos amigos, o mais engraçado, a mais simpática, a mais carinhosa, a mais extrovertida, o mais conselheiro, o mais argumentador, o mais criativo, a mais paciente, a mais mimada. A nenhum chamo de melhor amigo. E, no entanto, todos eles, em alguma ocasião, foram os melhores amigos que eu poderia ter. Porque todos eles, num momento, foram aquela pessoa, a única, que eu precisava comigo naquele momento para sentir o mundo na palma da minha mão.
Obrigada a todos os meus melhores amigos.
Dé.


Carta para a minha 'crush'
Sabes uma coisa, eu podia dizer-te que estava apaixonada por ti, mas a verdade é que não estou. Podia também dizer que era amor o que sentia mas, a existir, não passava de fraterno. A verdade é que o que eu sinto por ti é algo carnal, é animalesco, é intuitivo. É sentir-me pólo de um íman que se força a aproximar de ti frente a frente mas que, quando vira as costas, se sente impelido a afastar-se. É o teu corpo, é o meu corpo, são os cheiros, os sons, os gestos, atrais-me. E é apenas isso. Sem culpas e sem arrependimento.
Dé.

Carta para os meus pais
Esta carta foi a mais difícil de escrever até agora. Aliás, na boa da verdade, provavelmente, foi um dos textos  em que despendi mais tempo a planeá-lo, a pensá-lo ao pormenor, a escreve-lo e a corrigir cada frase. Não pela sua complexidade ou particular beleza linguística, apenas porque pretendo que cada palavra aqui escrita tenha o exacto do sentimento que trago comigo, e nisto não pode haver dúvidas.
Meus adorados pai e mãe, embora às vezes seja difícil adivinhá-lo pelos meus actos, não passa um dia sequer sem que me dê conta do quanto a vida me foi feliz pelo facto de vocês terem sido meus pais. Este sentimento bom faz-me perceber o quanto cresci e quanto vocês me ajudaram neste processo.
Meu querido pai, não gosto que digam que somos iguaizinhos, mas derreto de orgulho quando me dizem que sou parecida contigo. Não somos iguais porque tu és a pessoa que invejo ser, o meu maior modelo. Vejo-te, nos teus cinquenta, e sei que um dia gostava de ser assim, ter as tuas qualidades e viver a vida à tua maneira. Por isso pai, não posso permitir que digam que somos iguais, porque ainda me falta muito para andar até chegar a ti.
Minha mãe querida, a nossa relação nem sempre é carinhosa e serena, sabes disso. Às vezes, ao contrário do que acontece com o pai, sobe-nos a mostarda ao nariz e o feitiozinho difícil vem ao de cima. Mas sei o quão importante és para mim quando raramente decido algo sem perguntar a tua opinião, ainda que a minha decisão possa ser completamente diferente do que me dizes para fazer. És um dos pilares da minha vida e, eu sei mãezinha, que só queres o melhor para mim.
Os meus pais, os meus queridos pais... Agora lhes reconheço uma importância que antes ignorava, que não queria aceitar. Independência pouco ou nada tem a ver com amor, foi isso que a idade, a vida e eles me ensinaram. E hoje durmo mais descansada, mais feliz com a vida, mais cheia  de esperança num futuro risonho, se acreditar que um filho é sempre o reflexo dos seus pais.
Com amor,
Da vossa menina.


Carta para o meu irmão
Meu primo pequeno,

Quis o destino, ou os nossos pais, que nunca tivéssemos tido irmãos. Pode alguém pensar que as nossas infâncias foram repartidas entre brincadeiras solitárias e horas esquecidas à televisão, mas os dois sabemos que não foi nada disso que a vida nos deu. Meu querido, se a alguém pudesse chamar irmão, serias tu. Porque foi contigo que fui criança, que aprendi a partilhar e que conheci o ciúme, e fomos felizes os dois. As correrias de quando íamos brincar para o quintal e chegávamos todos sujos a casa. Os risos quando prendíamos o pé da avó à cadeira sem que ela desse conta. Os amuos quando jogávamos às cartas com o avô e eu ou tu perdíamos. O teu choro pouco sentido de todos os Natais quando perdias ao Loto e eu me ria da tua perda. A minha raiva de ti quando eu era a maior culpado de uma asneira engendrada a dois porque eu era a mais velha.
O tempo foi-nos afastando, os estudos trouxeram-me para longe e a idade separou-nos os objectivos. Mas, apesar das visitas de médico ao fim-de-semana – é sempre tão pouco o tempo! - continuo a gostar de ti como quando eras o meu companheiro de brincadeiras. E desejo-te do fundo do coração tanta felicidade como aquela que quero para mim. Tal e qual como um irmão meu.
A.

Carta para os meus sonhos
Não acredito em coincidências, as coisas não acontecem simplesmente por acaso. Quero crer que o mundo se move com a força da vontade, a garra da persistência e a ânsia do querer. E que no lamber das feridas se aprende mais disso tudo do que no erguer altos os braços a uma vitória. E por isso não acho que tenha sido obra do acaso que hoje, dia em que lambo uma ferida que a cada hora sem avanços me custa mais a curar, escrevo esta carta para os meus sonhos. E por isso as parcas palavras, porque me é difícil percebe-los agora nítidos, realizáveis, alcançáveis, humildes. Um dia, talvez um dia..."Não sou nada, nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo".
Eu.

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