sexta-feira, 29 de março de 2013

Um ano depois



29 de Marco de 2012 foi um dia mau. Acordei cedo de uma noite sem dormir e tinha no meu peito o peso maior que já senti. Despedi-me com abraços prolongados das ultimas pessoas e continuei a correnteza de lágrimas que os últimos dias já tinham assistido. Sentia-me uma prisioneira da vida, acorrentada a uma decisão inevitável que gostava de não ser obrigada a tomar. Sentia que me tinham roubado as opções de ser feliz, privado da companhia daqueles que mais gostava. Foi, sem duvida, um dos piores dias da minha vida. E as semanas seguintes não foram melhores, nunca são. E' muito difícil quando o coração puxa numa direcção e a cabeça na outra. Lutei comigo própria, com os outros, mas chegou um momento em que me cansei de tanta luta e finalmente desembaracei-me de medos e desencantos, deixando-me levar pela vida.  Nesse momento, tudo mudou, ainda estava eu tão longe de saber que aquele era só mais um começo  mais um reinventar-se, o primeiro dia do resto da minha vida. 

E neste ano que passou aprendi que a mudança só e' assustadora antes de se cumprir. E que mudar faz-nos crescer tanto. Aprendi muito, cresci não só como profissional mas também como pessoa. Tenho um emprego que gosto e onde me sinto apreciada pelos meus colegas, um sitio onde sinto que faço a diferença  Conquistei uma independência que iria demorar anos - será que o conseguiria algum dia? - em Portugal. Conheci gente nova e maravilhosa. Apaixonei-me por lugares e pessoas, vivi grandes momentos. Ganhei uma nova família aqui e sinto-me feliz e realizada. Aprendi que as vezes temos de arriscar para conseguir algo de bom.



Mas não se pense que foram só sorrisos e bons momentos. Mesmo que aqui se descubram novos amores e novas coisas que nos fazem francamente felizes, viver a muitos quilómetros daqueles que se ama não e' fácil, uma mão não lava a outra como se costuma dizer. Porque o amor `a distancia não e' para os fracos. E' preciso aprender a conviver connosco numa viagem solitária, com a saudade própria e com a saudade alheia. Esta continua a ser a parte mais difícil de viver longe, nas outras o coping e' eficaz, ainda que daqui tenha tirado grandes lições  Viver longe e' ser-se amigo do tempo. E saber que a contagem regressiva dos dias nos marca objectivos e nos da razoes para continuar. E' conhecer a alegria de cada reencontro e a tristeza de cada despedida. E' confiar que a distancia não muda a quantidade do sentimento, apenas a forma, convivendo pacificamente com viagens, esperas, filas de aeroporto, poupanças e pouca preguiça para empacotar a vida numa mala de mão e correr para aquele sitio que sempre chamaremos de casa.

Apesar disso, um ano depois, o balanço só pode ser positivo. E e' com esperança renovada que mais um começa  porque sei que, ainda que com grande risco, entre decisões instintivas e outras melhor pensadas, a vida tem reservada para mim maiores e melhores surpresas.

terça-feira, 19 de março de 2013

Do meu pai

Hoje e' um dia difícil por estes lados, e' o dia do Pai e eu estou a 2000 quilómetros do meu, longe pela primeira vez desde que eu sou sua filha e o meu pai e' meu pai. Logo haverá sessão no skype, como todos os dias, com direito a entrega de presente - como a minha mãe tão religiosamente prometeu entregar. Mas nada poderá pagar o preço da ausência de um abraço e de um beijinho de parabéns pai, gosto muito de ti. 
E' isso que e' este novo posto no seu essencial. O deixar escrito tudo aquilo que se gostaria de dizer olho no olho, talvez de braço dado ate'. Para que se possa ler hoje e reler amanha, quando um abraço for o mais essencial ou quando a saudade bater `a porta do coração.  



Pai, dizem que as tragédias da vida nos mostram o quão importantes são coisas que sempre demos como certas. E embora longe de considerar a minha vinda para Inglaterra uma tragédia - bem pelo contrario - foi só quando vim que me apercebi que tu, e a mãe  são ate ao momento as pessoas que mais marcaram a minha vida. Por isso, tanto te devo e tanto te tenho a agradecer. 

Obrigada por seres o pai que és. 
Estiveste sempre para mim em todos os momentos, e isso e' algo de que me conforta, pois sei que nunca estarei sozinha enquanto ai estiveres. Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras e as fotos não nos mentem. Estavas la quando nasci e entrei na tua vida, de uma forma tão marcada que hoje te faz dizer que o teu dia do pai e' aquele em que o foste efectivamente, esse sim e' o dia mais importante da tua vida de pai. Estavas la enquanto crescia, acompanhando-me nas minhas brincadeiras de menina pequena a fazer de mãezinha ou de professora e incentivando-me a aprender, a ser cada dia melhor (desculpa pelas colecções de livros que destruí nesse caminho de aprendizagem!). Ensinaste-me a andar de bicicleta e anos mais tarde a conduzir. Ensinaste-me que o azul e' a melhor cor do mundo e que e' saudável sermos apaixonados por alguma coisa na vida. Ensinaste-me a ser correcta, honesta e trabalhadora, através do teu exemplo. Explicaste-me que o respeito e' o melhor sentimento do mundo e que os momentos em que estamos com aqueles que amamos o que levamos da vida. Estavas la quando concorri `a faculdade e aceitaste a escolha que fiz, apesar de não concordares com ela. E passados quatro anos estavas la quando acabei o meu curso, com um orgulho desmedido a transbordar por todos os teus poros. E foste comigo entregar currículos  limpaste-me as lágrimas nas primeiras desilusões da vida de adulta, tentaste proteger-me das agruras dos tempos que correm mas, quando disse que para mim aquele era o fim da linha, apoiaste-me numa das decisões mais difíceis da minha vida e foi essa forca que me ajudou a ser feliz agora, aqui. Continuas comigo sempre, mesmo que a distancia geográfica nos separe, ainda que por períodos de tempo relativamente curtos. Tenho-te, a ti, `as tuas opiniões e aos sonhos que ainda guardas para mim, na minha maior consideração  e ainda hoje tudo o que esta mulher já feita, independente e crescida, quer e' agradar o seu paizinho.

Estas longe de mim, mas trago-te comigo pertinho do coração e jamais te esqueço  Sinto muito a tua falta no meu dia-a-dia. Um beijinho muito grande. Gosto muito de ti. 

Da tua filha Andreia.

(vemo-nos logo no skype)

[raio de teclado inglês que não me deixa por acentos nas palavras, valhai-me a correcção ortográfica portanto]