A verdade é triste
mas inevitável, porque é a verdade. Já não sinto saudades de Portugal como
sentia há um ano atras. Não sinto saudades do tempo, da comida, do mar, da
maioria dos lugares ainda que continue a guardar no cantinho mais querido das
memorias alguns dos sítios. Não é uma coisa diária, que às vezes quase me sufoca
e me pede para voltar todos os dias. Olho para Portugal com carinho, claro. É o
país onde nasci, onde cresci, onde me fiz mulher e onde estão as pessoas mais
importantes da minha vida. E são essas, as pessoas, aquelas em que a saudade
ainda se faz sentir numa intensidade diferente.
Vivo tranquilamente
numa vida que é minha, rodeada de muitos que eram desconhecidos e se tornaram família.
Vivo feliz, sabendo que fiz uma escolha correcta porque cada um de nós tem de
seguir o seu próprio caminho e escolher os seus próprios passos. E, aliás,
nunca ninguém disse que a vida e o sucesso são coisas fáceis, ainda que reconheça
que a minha geração teve de aprender isso da mais difícil das maneiras.
Mas depois há dias
destes, assim. Em que gostávamos de estar la, porque sabemos que os outros,
aqueles que mais gostamos e que mais gostam de nós, estão juntos. Há as ocasiões
que, mais do que o dia-a-dia, são as provas de fogo para quem está longe.
Hoje
na minha cidade será noite de S. João. E como costume, a família
junta-se para uma sardinhada, comes e bebes como se diz, bem comidos e regados,
para depois continuar pela noite fora, naquela tao única noite em que ninguém dorme
no Porto. Aqui por Londres, na 46 Fairlop Road, por entre a família que agora também
somos, também haverá sardinhas e entrecosto, musica de são João e folia. Mas faltarão
aqueles abraços, aqueles risos, aquelas maluquices de gente mais velha com
idade para ter juízo. Será uma noite boa, como muitas outras aqui, mas sempre
incompleta.