Cabelo preto, normalíssimo. Olhos giros e vivaços. Feições bonitas, engraçadas. Casaco beige. Postura rebelde. Tabaco Camel. Pasta de praxe, ainda sem insígnia. Emblema da TAISEP. Lindo de morrer.
Não o conheço.
Já perdoei erros imperdoáveis, substituí pessoas insubstituíveis e esqueci pessoas inesquecíveis. Já agi por impulso, já pensei demais. Já me decepcionei com pessoas que não julguei possível mas também já decepcionei alguém. Já abracei para proteger e já fui protegida sendo abraçada. Já ri quando não podia e chorei quando não devia. Já fiz amigos eternos e outros efémeros. Já amei e fui amada. Já fui amada e não amei. Já amei e não fui amada. Já gritei de felicidade e calei a fúria. Já fiz juras eternas e já quebrei juras eternas. Já chorei a ouvir música ou a ver fotografias, já sorri sozinha com recordações. Já telefonei só para ouvir uma voz. Já me apaixonei por um sorriso. Já pensei morrer de tantas saudades. Já morri de medo por perder alguém especial. Eu já vivi. Eu vivo. Eu não passo pela vida.
Já há muito tempo que não sabia o que era estar apaixonada. Sabia o que era ter alguém, o que era partilhar uma vida e o dia-a-dia. Mas não sabia o que era estar apaixonada. E estar apaixonada é demasiado bom para que me possa esquecer disso. Sabem a doce aquelas pequenas coisas que me dizem grandes sobre quem eu sou e sobre o que sinto. Ninguém acorda um dia, a pensar que está apaixonado. Mas pode ser uma dor de estômago a dizer-nos que estamos apaixonados. Pode ser a ansiedade por uma mensagem que não chega. Pode ser uma pequena mágoa no peito quando não nos sentimos correspondidos. São coisas de nada. Que são tudo.
Hoje eu senti isso.
«Eles não concordavam em muita coisa. De facto, eles raramente concordavam. Estavam sempre a discutir. E desafiavam-se um ao outro todos os dias. Mas apesar das diferenças, tinham uma coisa importante em comum. Amavam-se apaixonadamente»
(...)
- Filho da mãe arrogante!
- Ficas comigo?
- Ficar contigo? P'ra quê? Olha para nós. Já estamos a discutir!
- É isso que fazemos. Discutimos! Tu dizes-me quando eu sou um filho da mãe arrogante. Eu digo-te quando estás a ser uma chata, o que és quase sempre. Não tenho medo de ferir os teus sentimentos. Tu recompões-te num segundo e voltas a ser uma chata outra vez!
- E então?
- Não vai ser fácil. Vai ser mesmo muito difícil. Teremos de melhorar isso todos os dias. Mas eu quero fazê-lo, porque te quero a ti. Quero-te para sempre. Tu e eu juntos todos os dias.
(...)
- Achas que o amor pode fazer milagres?
- Acho.
(enxerto do filme O Diário da Nossa Paixão)