domingo, 23 de junho de 2013

Das ocasiões que perdemos

A verdade é triste mas inevitável, porque é a verdade. Já não sinto saudades de Portugal como sentia há um ano atras. Não sinto saudades do tempo, da comida, do mar, da maioria dos lugares ainda que continue a guardar no cantinho mais querido das memorias alguns dos sítios. Não é uma coisa diária, que às vezes quase me sufoca e me pede para voltar todos os dias. Olho para Portugal com carinho, claro. É o país onde nasci, onde cresci, onde me fiz mulher e onde estão as pessoas mais importantes da minha vida. E são essas, as pessoas, aquelas em que a saudade ainda se faz sentir numa intensidade diferente.

Vivo tranquilamente numa vida que é minha, rodeada de muitos que eram desconhecidos e se tornaram família. Vivo feliz, sabendo que fiz uma escolha correcta porque cada um de nós tem de seguir o seu próprio caminho e escolher os seus próprios passos. E, aliás, nunca ninguém disse que a vida e o sucesso são coisas fáceis, ainda que reconheça que a minha geração teve de aprender isso da mais difícil das maneiras.

Mas depois há dias destes, assim. Em que gostávamos de estar la, porque sabemos que os outros, aqueles que mais gostamos e que mais gostam de nós, estão juntos. Há as ocasiões que, mais do que o dia-a-dia, são as provas de fogo para quem está longe. 

Hoje na minha cidade será noite de S. João. E como costume, a família junta-se para uma sardinhada, comes e bebes como se diz, bem comidos e regados, para depois continuar pela noite fora, naquela tao única noite em que ninguém dorme no Porto. Aqui por Londres, na 46 Fairlop Road, por entre a família que agora também somos, também haverá sardinhas e entrecosto, musica de são João e folia. Mas faltarão aqueles abraços, aqueles risos, aquelas maluquices de gente mais velha com idade para ter juízo. Será uma noite boa, como muitas outras aqui, mas sempre incompleta.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Um ano depois



29 de Marco de 2012 foi um dia mau. Acordei cedo de uma noite sem dormir e tinha no meu peito o peso maior que já senti. Despedi-me com abraços prolongados das ultimas pessoas e continuei a correnteza de lágrimas que os últimos dias já tinham assistido. Sentia-me uma prisioneira da vida, acorrentada a uma decisão inevitável que gostava de não ser obrigada a tomar. Sentia que me tinham roubado as opções de ser feliz, privado da companhia daqueles que mais gostava. Foi, sem duvida, um dos piores dias da minha vida. E as semanas seguintes não foram melhores, nunca são. E' muito difícil quando o coração puxa numa direcção e a cabeça na outra. Lutei comigo própria, com os outros, mas chegou um momento em que me cansei de tanta luta e finalmente desembaracei-me de medos e desencantos, deixando-me levar pela vida.  Nesse momento, tudo mudou, ainda estava eu tão longe de saber que aquele era só mais um começo  mais um reinventar-se, o primeiro dia do resto da minha vida. 

E neste ano que passou aprendi que a mudança só e' assustadora antes de se cumprir. E que mudar faz-nos crescer tanto. Aprendi muito, cresci não só como profissional mas também como pessoa. Tenho um emprego que gosto e onde me sinto apreciada pelos meus colegas, um sitio onde sinto que faço a diferença  Conquistei uma independência que iria demorar anos - será que o conseguiria algum dia? - em Portugal. Conheci gente nova e maravilhosa. Apaixonei-me por lugares e pessoas, vivi grandes momentos. Ganhei uma nova família aqui e sinto-me feliz e realizada. Aprendi que as vezes temos de arriscar para conseguir algo de bom.



Mas não se pense que foram só sorrisos e bons momentos. Mesmo que aqui se descubram novos amores e novas coisas que nos fazem francamente felizes, viver a muitos quilómetros daqueles que se ama não e' fácil, uma mão não lava a outra como se costuma dizer. Porque o amor `a distancia não e' para os fracos. E' preciso aprender a conviver connosco numa viagem solitária, com a saudade própria e com a saudade alheia. Esta continua a ser a parte mais difícil de viver longe, nas outras o coping e' eficaz, ainda que daqui tenha tirado grandes lições  Viver longe e' ser-se amigo do tempo. E saber que a contagem regressiva dos dias nos marca objectivos e nos da razoes para continuar. E' conhecer a alegria de cada reencontro e a tristeza de cada despedida. E' confiar que a distancia não muda a quantidade do sentimento, apenas a forma, convivendo pacificamente com viagens, esperas, filas de aeroporto, poupanças e pouca preguiça para empacotar a vida numa mala de mão e correr para aquele sitio que sempre chamaremos de casa.

Apesar disso, um ano depois, o balanço só pode ser positivo. E e' com esperança renovada que mais um começa  porque sei que, ainda que com grande risco, entre decisões instintivas e outras melhor pensadas, a vida tem reservada para mim maiores e melhores surpresas.

terça-feira, 19 de março de 2013

Do meu pai

Hoje e' um dia difícil por estes lados, e' o dia do Pai e eu estou a 2000 quilómetros do meu, longe pela primeira vez desde que eu sou sua filha e o meu pai e' meu pai. Logo haverá sessão no skype, como todos os dias, com direito a entrega de presente - como a minha mãe tão religiosamente prometeu entregar. Mas nada poderá pagar o preço da ausência de um abraço e de um beijinho de parabéns pai, gosto muito de ti. 
E' isso que e' este novo posto no seu essencial. O deixar escrito tudo aquilo que se gostaria de dizer olho no olho, talvez de braço dado ate'. Para que se possa ler hoje e reler amanha, quando um abraço for o mais essencial ou quando a saudade bater `a porta do coração.  



Pai, dizem que as tragédias da vida nos mostram o quão importantes são coisas que sempre demos como certas. E embora longe de considerar a minha vinda para Inglaterra uma tragédia - bem pelo contrario - foi só quando vim que me apercebi que tu, e a mãe  são ate ao momento as pessoas que mais marcaram a minha vida. Por isso, tanto te devo e tanto te tenho a agradecer. 

Obrigada por seres o pai que és. 
Estiveste sempre para mim em todos os momentos, e isso e' algo de que me conforta, pois sei que nunca estarei sozinha enquanto ai estiveres. Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras e as fotos não nos mentem. Estavas la quando nasci e entrei na tua vida, de uma forma tão marcada que hoje te faz dizer que o teu dia do pai e' aquele em que o foste efectivamente, esse sim e' o dia mais importante da tua vida de pai. Estavas la enquanto crescia, acompanhando-me nas minhas brincadeiras de menina pequena a fazer de mãezinha ou de professora e incentivando-me a aprender, a ser cada dia melhor (desculpa pelas colecções de livros que destruí nesse caminho de aprendizagem!). Ensinaste-me a andar de bicicleta e anos mais tarde a conduzir. Ensinaste-me que o azul e' a melhor cor do mundo e que e' saudável sermos apaixonados por alguma coisa na vida. Ensinaste-me a ser correcta, honesta e trabalhadora, através do teu exemplo. Explicaste-me que o respeito e' o melhor sentimento do mundo e que os momentos em que estamos com aqueles que amamos o que levamos da vida. Estavas la quando concorri `a faculdade e aceitaste a escolha que fiz, apesar de não concordares com ela. E passados quatro anos estavas la quando acabei o meu curso, com um orgulho desmedido a transbordar por todos os teus poros. E foste comigo entregar currículos  limpaste-me as lágrimas nas primeiras desilusões da vida de adulta, tentaste proteger-me das agruras dos tempos que correm mas, quando disse que para mim aquele era o fim da linha, apoiaste-me numa das decisões mais difíceis da minha vida e foi essa forca que me ajudou a ser feliz agora, aqui. Continuas comigo sempre, mesmo que a distancia geográfica nos separe, ainda que por períodos de tempo relativamente curtos. Tenho-te, a ti, `as tuas opiniões e aos sonhos que ainda guardas para mim, na minha maior consideração  e ainda hoje tudo o que esta mulher já feita, independente e crescida, quer e' agradar o seu paizinho.

Estas longe de mim, mas trago-te comigo pertinho do coração e jamais te esqueço  Sinto muito a tua falta no meu dia-a-dia. Um beijinho muito grande. Gosto muito de ti. 

Da tua filha Andreia.

(vemo-nos logo no skype)

[raio de teclado inglês que não me deixa por acentos nas palavras, valhai-me a correcção ortográfica portanto]

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Da multiculturalidade de Londres

Estava eu no outro dia a conversar com uma aluna estagiária do meu serviço que é de origem muçulmana. Usa véu, vive com os pais e é filha de pais muito tradicionalistas. Perguntava-me ela se tenho marido, respondi-lhe que não. Ou então se tenho namorado e estou a pensar casar. Respondi-lhe que nem sequer consta dos meus planos tal pensamento. Fez uma cara de horrorizada, como que a dizer que estou velha e pronta para ficar para tia.

Começou então a contar-me que ainda não tem marido - tem 24 anos, apenas mais um que eu! - mas que os pais já foram ao Paquistão escolher-lhe um marido e que vai conhece-lo no próximo mês. Acrescentou que está muito entusiasmada com isso porque quer sair de casa dos pais, mas antes tem de ter um marido para a proteger. Fiz um sorriso amarelo e disse que eu, portuguesinha da silva e não particularmente religiosa, não tenho esse problema, que vim para Londres sozinha, que os meus pais confiam em mim e estão felizes com o que eu quero fazer da minha vida, mesmo sem ter marido para me proteger (ou me controlar no caso de eu querer virar uma devassa). 

sábado, 2 de junho de 2012

Do país que me conquistou em três segundo

Esqueçamos Portugal pelo tempo suficiente para terminar de ler o próximo parágrafo.

O meu país de eleição é Inglaterra. Cheguei, vi-o e conquistou-me, tal e qual como um amor à primeira vista. Não lhe consigo fechar o coração, dizer que não gosto. Inglaterra é um óptimo país para se começar uma vida. As pessoas são liberais, apaixonadas e as amizades melting pot que se começam a fazer são deliciosas. Aqui pode-se acreditar nos sonhos, podemos ser quem quisermos, confiar nas gentes. Há leis, há castigos, há erros mas também há o poder da redenção. Há uma auto-estima notável e um amor próprio pelos seus e pelo que é seu de fazer inveja, ainda que esteja de coração aberto à novidade e ao que é diferente. Inglaterra é um grande país, é o meu país real para viver e vejo-me aqui (pelo menos) nos próximos anos, ainda que possa viver aqui lifetime long e ser feliz.


Mas Portugal é aquele que tem o meu coração. Porque é feito de abraços, reencontros, carinhos, tempo e alegria permanente. Onde não penso no trabalho, nem na casa para arrumar. Onde não há domingos à noite nem segundas-feiras. Onde o dia-a-dia não tira a magia às coisas. De onde sinto saudades todos os dias que passo no meu país real. 

Dos dois meses

Já se completaram os dois primeiros meses desde que vim para Londres. Que comecei a trabalhar aqui, que alarguei horizontes, ganhei novos amigos e uma vida completamente diferente. Já ganhei dois salários, daqueles de encher a alma. A casa que antes não era a minha agora já me parece familiar e acolhedora - ainda que estejamos a planear uma mudança para 'nossa' casa. Sinto-me mais crescida, melhor, mais eficiente e competente no meu trabalho. Sei mil vezes mais sobre cardiologia do que há dois meses atrás. Falo inglês todos os dias e elogiam-me a pronúncia. Cresci imenso, em todos os lados da minha vida. 

Hoje valorizo mais quem sou, quem está comigo. Dou mais importância às saudades, à família e aos amigos., mas também tenho a plena consciência de que tudo o que sonho está ao alcance da minha vontade. Se emigrar  para muitos é a réstia de esperança, para mim, como me disse ontem uma grande amiga, 'foi a melhor coisa que fizeste na tua vida'.

(um sunny sunday no Hyde Park)



quarta-feira, 23 de maio de 2012

Dos momentos maus

Existem momentos em que precisamos de uma metamorfose, de mudar.
Existem momentos em que somos corajosos para enfrentar o pior dos medos.
Existem momentos em que largamos tudo o que é seguro e tido como certo.
Existem momentos em que somos humildes e agradecemos o melhor que a vida nos deu.
Existem momentos em que desejamos ardentemente que os sonhos se cumpram.
Existem momentos em que nos repensamos e aceitamos que não estamos sempre certos.
Existem momentos em que pedimos desculpa pelas falhas e pelas fraquezas.
Existem momentos em que virámos a página e seguimos em frente.
Existem momentos em que renovamos a esperança.
Existem momentos em que vivemos em pleno e aproveitamos.
Existem momentos em que olhámos para trás e outros em que confiamos no que há de vir.
Existem momentos em que temos fé. Em nós, nos outros e em tudo o que de bom merecemos.

E depois existem momentos, como este. Em que o mundo treme debaixo dos nossos pés. E resta-nos apenas a fé e a esperança.

Força meu querido Zé Pedrinho, meu querido pequenino, tudo vai correr bem!