quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Uma multidão à minha volta.

E continuo a sentir-se sozinha. Como se falasse numa língua diferente. Como se fosse uma estranha para todos. Estou rodeada de gente mas ninguém parece conseguir chegar até a mim. Tudo é circunstancial, nada é realmente importante. Sinto-me como se os outros não quisessem saber, como se lhes tivesse de soletrar a minha tristeza para que soubessem dela. E não queria ter de o fazer. É a sensação de que não há tempo, não há paciência, não há vontade para mim. E os dias passam a correr. Quarenta e três dias depois. Oh Deus, estou a perder-me. Preciso de presença, de toque, de mimos e olhares. Da certeza que alguém gosta de mim. Preciso de energia para me sentir vivia. Preciso, mas não queria pedir.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Aos amigos.

Haver alguém que nos arranque de uma apatia incaracterística, que nos sacuda o tédio e nos cole um sorriso nos lábios quando não o julgámos possível. Haver quem nos tire o cigarro e o isqueiro da mão, quem nos encha o copo de novo e de novo. Haver quem diga passa cá hoje ou vai ficar tudo bem, tem calma. Haver quem nos aqueça o corpo com um casaco forte. Haver quem nos tape quando adormecemos exaustos em sofá alheio e adormeça ao nosso lado. Haver quem apague as luzes e deixe cair no escuro uma palavra de consolo.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Deparei-me com...

Sentado no cais
E ver ao longe o mar
E a ponte sobre o Tejo
Se é tão bonito

É por causa de ti

E deste meu desejo

Afinal vale a pena

Pensar em mais ninguém!


Só gosto de ti

Porquê?! Não sei

Mas estou bem assim

E tu também! (2x)
(Heróis do Mar, Só Gosto de ti, 1985)

[não estou tão bem assim, mas o resto até é verdade]

A arte de não se apaixonar

É quase um habitué escrever sobre a paixão. Ou porque as pessoas estão muito apaixonadas, envolvidas num estado de caramelo, ou porque andam pelas ruas da amargura por uma paixão mal resolvida. O que passa tantas vezes despercebido é o desastre pela incapacidade de se apaixonar. Na grande maioria das vezes, não somos capazes de nos apaixonar pela pessoa certa, o que a torna errada. É então que surge perigosamente a oportunidade de nos apaixonarmos pela pessoa errada que, tão somente pela existência desse sentimento avassalador, se torna certa.

Ainda me encontro da outra margem do rio, na insensatez da minha certa escolha errada.

Erros de vez em quando

É fácil cometermos erros. Basicamente é uma questão de probabilidade: com os milhões de horas que temos na vida, não daria para acertar sempre, claro. Daí surgem sempre aquelas situações em que penduramos um quadro de forma torta, esmurramos o carro a sair da garagem, confudimos o vizinho com outra pessoa ou nos apaixonamos pelo maior banana à face da terra. Um dia acertamos. Alguns erros são fáceis de resolver: levar o carro ao mecânico, pedir desculpa ao vizinho. A maioria desses erros têm solução fácil, nem que essa passe por dispensar aqueles eurozitos que temos guardados para aqueles sapatos fantásticos e comprar um substituto para a coisa.

Inevitalmente os maiores erros são aqueles que nos ferem ou que ferem as pessoas ao nosso redor. Magoamos quem amamos e falta-nos a coragem para pedir desculpa. E como qualquer ferida que não recebe tratamento atempado, piora, agrava-se, as conversas tornam-se circunstanciais e a relação arrasta-se, de forma lamacenta, sem novidade alguma. O tempo passa e continua o mesmo estádio de impavidez. Covardia de ambas as partes. Um erro quase sem conserto.

Vicky Cristina Barcelona

Noite de sexta-feira. Um balde de pipocas e mais um do Woody Allen. Um filme inspirador, uma cidade maravilhosa e um elenco cheio de pessoas bonitas. Uma comédia romântica nada cómica, mas inteligente e desempoeirada. Um relatar despretencioso das relações que hoje a sociedade tolera e até incentiva em contraponto com a insatisfação latente e insaciável que leva a uma permanente busca de um ideal de felicidade individual que, tantas vezesm nem se sabe muito bem o que é. Apenas se tem a certeza do que não é.

Um filme para mim introspectivo, confuso, díficil de digerir, pelo meu prisma pessoal. Fica para a posteridade que os amores mais românticos são os impossíveis e a certeza que um amor não correspondido é sempre mais satisfatório que um meio amor.

Aconselho o filme. Mesmo. Porque não me saiu da cabeça desde sexta-feira.