O que te quero dizer

De repente fez-se luz no meu caminho. De onde antes existiam pirilampos suaves e discretos, hoje há mil sóis a mostrar-me o caminho a seguir. Hoje sei que a melhor maneira de te ter comigo é aceitar que somos parecidos e que não poderemos ser mais do tanto que já fomos tantas vezes.

Se escrevo é porque as palavras ficam retidas, envergonhadas quando te tenho ao meu lado. Só aqui consigo encontrar a profundidade exacta, o sentimento exacto para te falar – e apenas a ti – do que sinto. Sabes que o que temos já não me é suficiente. Tens-me dado, desde que me lembro, momentos inesquecíveis, maravilhosos, irreplicáveis. Fizeste-me sentir o que só achei que se aplicava aos personagens de alguns dos filmes que vimos juntos. Fizeste-me rir quase sempre, tens um humor notável. Fizeste-me chorar o suficiente para me permitir a mim mesma perceber que o coração também precisa de se entristecer, senão morre. Deste-me noites de luar e de trovoada, amanheceres engraçados e pores-do-sol únicos. Falamos e fizemos silêncio. Conversamos sobre assuntos que só contigo consegui falar de forma tão aberta e tão intensa.

Fizeste-me querer mais, apesar de nada me prometeres e a isso me desencorajares, mas não fui capaz de deixar de desejar aquilo que tenho a certeza seria perfeito. Gostei de pensar que os momentos únicos seriam uma constante. Que não te teria apenas nos intervalos das nossas vidas, cada uma tão cheia de gente e de projectos. Mas agora só sei que assim já não me chega. Nunca quis um tudo ou um nada, especialmente se o nada fosse deixares de fazer parte da minha vida. Mas gosto de mim o suficiente para querer mais do que não existe entre nós, ainda que isso signifique abrir mão de um sentimento e pôr-me confortável no papel que sempre terei na tua vida, e tu na minha: o de grandes amigos.

Não precisas mais de mim do que isso. Nem agora, nem nunca. E eu aceito-o, apesar de gostar de um desfecho diferente. Custa-me abrir mão de um desejo antigo, é verdade, mas faço-o. Sem dramas, sem lamechices. A crescer. Porque gosto de ti ao ponto de acreditar que mereces ser feliz com alguém que goste do fundinho do coração.