sexta-feira, 25 de março de 2011

Dinheiro, eis a questão!

Na terça-feira, fui a uma entrevista de trabalho, numa empresa que me tinha ligado de véspera. Esteja cá às nove e meia, disseram-me eles. Foram pontuais e, em menos de dez minutos, sai dali com a perspectiva real de um emprego de sonho numa filial da empresa de publicidade e marketing portuguesa mais conceituada. 

Parecia-me surreal. Bom ambiente, vencimento de sonho (um mínimo de 1210€ por mês), um cargo de gestão de pessoas, uma empresa de gente nova e oportunidade de progressão na carreira. Dada a minha falta de experiência (e conhecimento na área, admito), combinámos que quarta-feira iria passar um dia à empresa para ver se era bom para mim ou não aquele tipo de trabalho. O meu trabalho consistiria em deslocar-me a pequenas e médias empresas, lares, centros sociais e outros locais de aglomeração de pessoas e apresentar produtos das marcas com que a empresa trabalhava, sendo precedida por três comerciais, pertencentes à minha equipa, que iriam posteriormente vender os produtos. 

O primeiro dia foi de observação. Confesso que odiei, o dia nunca mais acabava, eu já rezava às alminhas para porem fim àquele tormento e maldizia-me por ter respondido àquele anúncio. Eram quase 21h quando, sentada no escritório do gerente, este se desfez em elogios  à minha pessoa e me propôs observação até hoje. Se continuasse interessada, assinávamos contrato. Pensei dizer que não estava interessada, mas depois pensei no vencimento e recuei. 

Ontem, mais um tormento. Ao longo do dia fui percebendo que afinal o tal ordenado não era bem assim. Por cada venda que os comerciais realizassem eu ganhava 11€, sendo que em média costumam ser realizadas cinco por dia. O horário era ainda mais extenso do que o planeado. O transporte para as instituições tinha de ser assegurado por mim e subsídio de refeições não existia. Mesmo assim, mentalizei-me que era um emprego e que tinha de aproveitar a oportunidade, comer e engolir.

Mas hoje de manhã foi a gota de água. Mandaram-me para um centro de dia para idosos em Baguim do Monte promover um massajador de pés. Lá fui, ainda que um pouco confusa com a situação. Fiz o que me competia e, no final, como tinha tempo, fiquei um pouco na conversa com uma idosa do centro de dia, muito simpática. É então que vejo um vendedor impingir a um idoso um dos massajadores, que custava 70€. O idoso dizia-lhe que não podia comprar, que era aquele o dinheiro que tinha até ao final do mês mas o vendedor, hábil na sua manipulação para vender, embrulhou o pobre homem em tamanho enleio que o senhor acabou dar os seus últimos 70€ do mês em troca de uma coisa que, provavelmente, nunca iria usar.

Aquilo enojou-me profundamente, deu-me asco. Mostrou-me o quão vil consegue ser o humano para conseguir os seus intentos. Fiquei tão incomodada que quase de imediato, apenas pelo respeito que mantenho por todos, meti-me no meu carro, encaminhei-me para a empresa, interrompi uma chamada telefónica do gerente e disse-lhe, educamente, que não sou feita para vender banha da cobra a ninguém, que o dinheiro não é tudo. Não tão educadamente, fui chamada de idiota por desperdiçar a oportunidade de ganhar muito dinheiro. Perdi então um pouco as estribeiras e mandei-o meter o dinheiro num sítio que cá sabemos, porque os meus princípios, esses não há dinheiro que os possa comprar! 

[oficialmente de volta à procura de emprego]

1 comentário:

DeepGirl disse...

Pois, aconteceu-me exactamente o mesmo.

Aquilo enjoou-me também.

Vim-me embora, mas nem disse nada a ninguém.

Só de pensar em lá voltar, dava-me cabo dos miolos.

Beijinhooooo!