sexta-feira, 11 de março de 2011

Das mulheres do XXI i


Qualquer conversa mais do que circunstancial entre a minha avó, a minha mãe e as minhas tias, ronda inevitavelmente os cozinhados, as lides domésticas e se a roupa está seca ou encharcada na bacia. E é com orgulho que apresentam a sobremesa favorita no almoço de domingo, que se gabam da roupa estar seca, passada a ferro e já arrumada no armário. Ou que lamentam o tempo, que molha e suja tudo. 

A mim, espécime único do género feminino na minha geração familiar, fica-me bem dizer que não sei cozinhar, que os botões da máquina de lavar são indecifrável e que economia doméstica é coisa disso mesmo, doméstica . Porque eu, no auge da minha juventude do século XXI, que visto Lanvin (ainda que comprado na H&M), que calço Loubotin que ai-jesus-nossa-senhora-não-podem-custar-menos-de-trezentos-euros, que leio livros (livros, a sério?) no Ipad e só comunico através do Iphone, sou uma mulher moderna, profissional e super actual, que debita marcas de luxo e, das duas uma, ou idolatro ou odeio a Margarida Rebelo Pinto.

Mas eu, de feitio difícil e gostando tanto de contrariar, digo que essas mulher modernas e actuais não passam de umas saloias que, com um orgulho idiota, assumem uma grande incapacidade. A minha avózinha pode não saber quem é o José Luís Peixoto, porque é que existem os óscares ou o que significa bimby mas em casa dela não é preciso ligar o Iphone e ligar ao take-away e não se gastam balúrdios em contas de lavandaria. À parte disto tudo, ainda brinca com o neto mais novo, ralha com o do meio e gosta de conversar com a única menina, faz renda como ninguém e passeia que se farta com o avô.

Ah, esqueci-me. Ela alimenta-se, veste-se e limpa-se. E tudo isto sozinha.

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