quarta-feira, 22 de junho de 2011

O prometido é devido


André Villas Boas chegou ao FC Porto como desconhecido para a maioria, conhecido como o adjunto de Mourinho por quem gosta e acompanha o futebol. Chegaram depois notícias que era adepto desde pequeno, que interpelou Robson quando este era treinador do FC Porto e lhe perguntou porque não punha o Domingos a jogar e que foi aí, debaixo da asa de um treinador campeão no FC Porto, que começou os seus voos, na altura rasantes. E digo rasantes, porque voos altos alcançou-os na época de 2010/2011, numa aposta ganha de Pinto da Costa, quando ganhou tudo o que tinha a ganhar no FC Porto, mais concretamente a Supertaça Nacional, o campeonato nacional, a Taça de Portugal e (a grande conquista!) a Liga Europa. Além de tudo isso, o FC Porto que teve como timoneiro André Villas-Boas deu-nos, a todos os portistas, recordações incríveis: os 5 a 0 no Dragão ao rival de Lisboa, a reviravolta na Luz, as goleadas, o campeonato invicto. André Villas-Boas tornou-se um herói na nação portista. Não apenas porque ganhou, mas porque era portista, daqueles de coração. Disse que não queria sair, que este era o seu emprego de sonho e, assim, conquistou um lugar no coração dos portistas, no meu também.

E por isso, foi com enorme incredulidade que vi, na segunda-feira, a notícia que André Villas-Boas poderia ter assinado pelo Chelsea. Primeiro não acreditei, mais um jornaleco de Lisboa a encanzinar a pré-época. Depois ignorei, quando o FC Porto emitiu o primeiro comunicado. Depois, enfureci-me. E a seguir racionalizei. Mas, no fim, desiludi-me profundamente.
Enfureci-me porque não se fazem promessas das quais não se tem intenção de cumprir. Enfureci-me, como sempre o faço quando nos prometem o mundo, embora saibam que não estão dispostos a conquistá-lo connosco. Enfureci-me porque não gosto que me mintam e muito menos suporto as incoerências.
Depois racionalizei. Foi um negócio e tanto, para o FC Porto e para o André Villas-Boas, principalmente quando já não estamos nos tempos das vacas gordas nem no futebol. Quinze milhões são um poderoso encaixe que estarão disponíveis para comprar novos reforços ou para solidificar o plantel já existente, mantendo assim alguns dos jogadores-chave. Para André Villas-Boas, o quíntuplo do que ganhava até agora anualmente. Para o FC Porto, agora é tempo de trabalho, verificar os danos, corrigi-los e iniciar a próxima época.

Mas, no final de tudo, resta-me uma enorme desilusão. Apesar de racionalmente ter de compreender a decisão, o meu coração de portista não pode deixar de se sentir traído, porque um portista não dá o dito por não dito. Um portista não sente uma paixoneta de verão pelo clube, ama-o até ao fim. Para mim, André Villas-Boas era alguém que, como eu, como o meu pai, sofria cada derrota, festejava cada golo, ansiava cada vitória e sentia o FC Porto como o seu clube. Acreditava inocentemente que, como eu ou o meu pai, seria capaz de treinar o FC Porto a custo zero se isso se impusesse. Mais, acreditava no compromisso que tinha anunciado, porque acredito que um Homem não deve faltar à sua palavra. Villas-Boas tinha tudo para sair pela porta grande, como um herói, aclamado por todos, adorado por todos os como ele, portistas. Poderia sair ainda este ano, poderia sair agora ou até depois, desde que não prometesse algo que não tinha a intenção de cumprir. Poderia, tal como eu lhe poderia desejar a melhor das sortes, uma carreira cheia de sucesso e que seja feliz profissionalmente. Mas, pelo coração morre este portista. Pelo menos para mim.

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