terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Gente que é parva


A nova música dos Deolinda, chamada de Parva que Sou, gerou um burburinho social como há muito não se via. Os recém-licenciados, os desempregados, os que almejam por um futuro melhor, vêm nela um hino geracional, como se Zeca Afonso ou José Mário Branco tivessem ressurgido sob a voz de Ana Bacalhau (andam eles às voltas no túmulo perante tal comparação!). Os outros, nascidos em berço d'ouro e de vidinha confortável, como o Sr. Ministro Mariano Gago ou a ex-Ministra Lurdes Rodrigues, acham isto tudo uma palermice, um comunismo pegado, um caminho errado para desviar dos estudos os que defendem esta 'geração parva'. E depois, ainda existem estas andorinhas como a acima referida, que na edição de 18 de Fevereiro deste ano do Jornal Destak, escreve a pérola que se pode ler, alguém que nasceu em berço de ouro, empreendeu relações sociais bem sucedidas e escreve meia dúzia de barbaridades numa coluna social.

Ora todos sabemos que há um enorme buraco entre a procura e a oferta de empregos qualificado. Que as empresas se aproveitam dessa abundância para fazer proliferar os empregos temporários ou os estágios gratuitos. Mas... geração parva? Parvos porque nos esforçamos para estudar mais, para obter mais competências, porque nos valorizámos? Parvos porque aproveitaram as oportunidades dadas pelos pais para obter uma licenciatura? Parvos porque, em vez de andarmos a trabalhar nas obras (sem desprimor para quem o faz), andámos a estudar para podermos ser melhores, para podermos ambicionar um futuro risonho? Parvos é que não somos. Porque por muito que nos custe ver a nossa vida adiada, que sintamos as nossas capacidades desprezadas e desvalorizadas, ainda podemos acreditar que um dia podemos vir a colher os frutos do nosso trabalho. Não somos nós os parvos por termos estudado e ambicionarmos um emprego compatível. Parva é a gente que, por ter tido o ovo no cú da galinha, se acha no direito de criticar aqueles que procuram apenas o retorno do investimento que fizeram.

2 comentários:

Rêgo disse...

Subscrevo e assino!

two_wheels_boy disse...

Discordo apenas que aquela coluna faz todo o sentido.
Como tu já disseste há muita gente pequenina e, no fundo triste, que se identifica com a geração parva. Uma coisa é certa, não os podemos culpar de conhecerem os Lusíadas muito bem, porque simplesmente ainda esperam o D. Sebastião.
Acima de tudo, muita da geração parva, deveria era agarrar nos 'tomates' muito bem agarradinhos e ter honra, coragem, princípios, humildade, solidariedade e muitas outras coisas boas no seu carácter para fazer o que está certo, ou simplesmente fazer alguma coisa.

Para muitos dessa geração parva basta perguntar: 'Foste votar?'

P.S.: Já lá vai algum tempo, espero que te esteja a correr tudo bem, bjito